ENEM 2023-1ºDIA

Professor Diminoi

ENEM 2023 – 1º DIA
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS E REDAÇÃO

Questões Comentadas
01) (ENEM - 1023) Questões de 1 a 5 (opção inglês)
Esse cartaz de campanha sugere que
(A) os lixões precisam de ampliação.
(B) o desperdício degrada o ambiente.
(C) os mercados doam alimentos perecíveis.
(D) a desnutrição compromete o raciocínio.
(E) as residências carecem de refrigeradores.
Resolução:
Lê-se, no texto:
“Eat your leftovers and keep your perishables in the
fridge – the Earth is counting on it.”
Alternativa: B

02) (ENEM - 1023)
          No man is an island,
          Entire of itself;
          Every man is a piece of the continent,
          A part of the main.
          [...]
          Any man’s death diminishes me,
          Because I am involved in mankind.
Nesse poema, a expressão “No man is an island” ressalta o(a)
(A) medo da morte.
(B) ideia do conexão.
(C) conceito de solidão.
(D) risco de devastação.
(E) necessidade do empatia.
Resolução:
Lê-se, no texto:
“Any man’s death diminishes me,
Because I am involved in mankind.”
Alternativa: B

03) (ENEM - 1023)
Things We Carry on the Sea
We carry tears in our eyes: good-bye father, good-bye
     [mother
We carry soil in small bags: may home never fade in our
     [hearts
We carry carnage of mining, droughts, floods, genocides
We carry dust of our families and neighbors incinerated
     [in mushroom clouds
We carry our islands sinking under the sea
We carry our hands, feet, bones, hearts and best minds
     [for a new life
We carry diplomas: medicine, engineer, nurse,
     [education, math, poetry, even if they mean
     [nothing to the other shore
We carry railroads, plantations, laundromats,
     [bodegas, taco trucks, farms, factories, nursing
     [homes, hospitals, schools, temples... built on
     [our ancestors’ backs
We carry old homes along the spine, new dreams in our
     [chests
We carry yesterday, today and tomorrow
We’re orphans of the wars forced upon us
We’re refugees of the sea rising from industrial wastes
And we carry our mother tongues
     [...]
As we drift... in our rubber boats...from shore...to shore...
     [to shore...
Ao retratar a trajetória de refugiados, o poema recorre a imagem de viagem marítima para destacar o(a)
(A) risco de choques culturais.
(B) impacto do ensino de história.
(C) importância da luta ambiental.
(D) existéncia de experiências plurais.
(E) necessidade de capacitação profissional.
Resolução
É possível identificar em todo o poema a pluralidade das experiências vividas pelos refugiados, como, por exemplo, no trecho
“We’re refugees of the sea rising from industrial wastes
And we carry our mother tongues
[...]
As we drift... in our rubber boats...from shore...to shore...
     [to shore...”
Alternativa: D
 
04) (ENEM - 1023)
Spanglish
          pues estoy creando Spanglish
          bi-cultural systems
          scientific lexicographical
          inter-textual integrations
          two expressions
          existentially wired
          two dominant languages
          continentally abrazándose
          in colloquial combate
          imperio spanglish emerges
          sobre territorio bi-lingual
          las novelas mexicanas
          mixing with radiorocknroll
          immigrant/migrant
          nasal mispronouncements
          hip-hop, street salsa, spanish pop
          standard english classroom
          with computer technicalities
          spanglish is literally perfect

Nesse poema de Tato Laviera, o eu lirico destaca uma
(A) convergência linguístico-cultural.
(B) característica histórico-cultural.
(C) tendência estilístico-literária.
(D) discriminação cultural.
(E) censura musical.
Resolução
É possível identificar a convergência linguísticocultural nos trechos:
“two dominant languages/continentally abrazándose/in colloquial combate”, “las novelas mexicanas/mixing with radiorocknroll” e “hip-hop, street salsa, spanish pop standard english classroom”.
Alternativa: A

05) (ENEM - 1023)
Ao retratar o ambiente de trabalho em um escritório escritório, esse cartum tem por objetivo
(A) criticar um padrão de vestimenta.
(B) destacar a falta de diversidade.
(C) indicar um modo de interação.
(D) elogiar um modelo de organização.
(E) salientar o espírito de cooperação.
Resolução
O cartum destaca a falta de diversidade ao ilustrar o ambiente de trabalho em um escritório em que há apenas homens e todos com vestimenta, perfil e comportamento similares.
Alternativa: B
 
06) (ENEM - 1023)
TEXTO I
¿QUÉ ME PASA?:
¿PorQUÉ ME CUESTA TANTO ESTUDIAR?
¿pORQUÉ ME CUESTA TANTO CONCENTRARME?
¿PoRQUÉ......
¿pORQUÉ......
¿PORQUé NO CONSIGO APRENDER COMO LOS
DEMÁS?

TEXTO II
Ishaan Awashi es un niño de 8 años cuyo mundo está plagado de maravillas que nadie más parece apreciar:
colores, peces, perros y cometas, que simplemente no son importantes en la vida de los adultos que parecen más interesados en cosas como los deberes, las notas o la limpieza. E lshaan parece no poder hacer nada bien en clase.
Cuando los problemas que ocasiona superan a sus padres, es internado en un colegio para que le disciplinen. Las cosas no mejoran en el nuevo colegio, donde lshaan tiene además que aceptar estar lejos de sus padres. Hasta que un día, el nuevo profesor de arte, Ram Shankar Nikumbh, entra em escena, se interesa por el pequeño Ishaan y todo cambia.
O filme Como estrellas en la tierra aborda o tema da dislexia. Relacionando o cartaz do filme com a sinopse,
constata-se que o(a)
(A) olhar diferenciado para com o outro gera mudanças.
(B) estudante com dislexia a apresenta um tom questionador.
(C) abordagem para lidar com a dislexia é pautada na disciplina.
(D) contato com os pais prejudica o acompanhamento da dislexia.
(E) mudança de interesses ocorre na transição da infância para a vida adulta.
Resolução
O filme Como estrellas en la tierra aborda o tema da dislexia e como o menino Ishaan Awashi expressa sua
dor pela incompreensão dos adultos diante de sua vida e atitudes. No entanto, as perguntas no início (cartaz) e a postura do professor Ram Shankar Nikumbh para com o pequeno Ishaan mostram que um olhar diferenciado para com o outro gera mudanças, sendo este o conteúdo da alternativa A. As demais não são corretas porque:
b) Mesmo que o cartaz apresente muitas perguntas de Ishaan, a sinopse descreve os conflitos vividos pelo pequeno diante da intolerância dos adultos e seus castigos e o olhar de complacência do professor.
c) A sinopse não relata a disciplina como foco único e principal para lidar com a dislexia, mas as diferenças de interesses entre a criança e o adulto, salvo o professor Ram.
d) A postura dos pais de Ishaan não é correta diante de suas atitudes não convencionais, porém o texto não apresenta de forma geral que o contato com os pais prejudica o acompanhamento da dislexia. O texto cita “que além de estar em um novo colégio precisa lidar com a ausência dos pais”, o que gera tristeza.
e) A sinopse cita a diferença entre os interesses dos adultos e das crianças, mas não mostra essa transição e o cartaz enfatiza os questionamentos de uma criança que se compara com as demais, convencionais diante do olhar dos adultos.
Alternativa: A
 
07) (ENEM - 1023)
Me niego rotundamente
A negar mi voz,
Mi sangre y mi piel.
Y me niego rotundamente
A dejar de ser yo,
A dejar de sentirme bien
Cuando miro mi rostro en el espejo
Con mi boca
Rotundamente grande,
Y mi nariz
Rotundamente hermosa,
Y mis dientes
Rotundamente blancos,
Y mi piel valientemente negra.
Y me niego categóricamente
A dejar de hablar
Mi lengua, mi acento y mi historia.
Y me niego absolutamente
A ser parte de los que callan,
De los que temen,
De los que lloran
Porque me acepto
Rotundamente libre,
Rotundamente negra,
Rotundamente hermosa.
Para enfatizar caracteristicas e atitudes que reforçam a identidade da mulher negra, o poema da escritora costarriquenha apresenta
(A) advérbios como “rotundamente” e “categóricamente”.
(B) verbos reflexivos como “me niego” e “me acepto”.
(C) adjetivos como “grande” e “hermosa”.
(D) substantivos como “sangre” e “piel”.
(E) adjetivos possessivos como “mi” e “mis”.
Resolução
No poema de CampelI Barr S., as características da mulher negra são enaltecidas com o advérbio “rotundamente”, que é repetido oito vezes no poema, e o advérbio “categóricamente”, que aparece uma única vez. Ambos significam de maneira clara, precisa, por isso são usados para reforçar a identidade da mulher negra.
As demais alternativas também mostram as características da mulher negra, mas não a enfatizam, são verbos e possessivos necessários na construção dos versos para falar sobre uma identidade, porém não a reforçam.
b) Verbos reflexivos indicam a ação pessoal da poetisa, sua identidade.
c) Adjetivos descrevem a pessoa.
d) Os substantivos usados são comuns.
e) Os possessivos indicam que os versos se referem à primeira pessoa do singular.
Alternativa: A
 
08) (ENEM - 1023)
“Caramelos” en sus suelos
Las tierras de España, tu vista enamoran;
sus gentes; te amistan; ¿“cocinas”?, ¡“te molan”!
¿El plato común?, ¡pues «tortilla/patatas»!;
en bares, figones, o tascas, ¡las «tapas»!;
“sabor nacional”, ¡el «gazpacho», sus «vinos»,
«sangría», y «jamón» de sabrosos cochinos!
(Cual “sellos”, te grabas sus «Típicos Platos»;
¡sabrás por dó pasas, por sólo tu olfato!,
¡si en cada lugar, un sabor peculiar,
“al paso” cautiva tu buen paladar!).
¡Son más que “recetas”!, será “alegoría”!,
¡será “identidad”! (¡hay “reserva” en su «Guía»!);
son platos allende un “timón conductor”,
¡son mar, ríos, sierras!, ¡son valles, son flor!,
¡y aportan “Conventos” a gastronomia,
sus «dulces»! (sabor “celestial”, ¡de ambrosia!).
Nesse poema, o eu poético enaltece a
(A) característica amistosa do povo espanhol.
(B) beleza das paisagens naturais da Espanha.
(C) variedade de pratos na gastronomia espanhola.
(D) relação entre os sentidos do paladar e do olfato na gastronomia.
(E) gastronomia como representação da identidade cultural de um povo.
Resolução
O texto descreve a cultura espanhola por meio de sua culinária, que é conhecida mundialmente, a citação dos pratos típicos como “gazpacho” e “tortilla de patatas” etc. é mais que alimento. é uma identidade cultural.
Na frase “¡Son más que “recetas”!, ¡será alegoría!, ¡será identidad!” podemos ver o uso dos sinais de exclamação confirmando essa informação.
As demais alternativas não estão corretas porque, mesmo que tenham certa relação com o texto, não descrevem o seu objetivo principal, que é a cultura do povo espanhol representada pela gastronomia.
Alternativa: E

09) (ENEM - 1023)
Técnicas de manipulación y el resultado
     Manipular es sembrar en la conciencia y en la mente de la gente ideas, actitudes, conceptos y aspiraciones — incluso falsas e inmorales — que sirvan a los objetivos de sus manipuladores.
     Manipular es una de las primeras cosas que aprendemos en la vida. A muy temprana edad, los bebés descubren el poder del llanto, el berrinche, los pataleos, a risa o alguna “gracia” como recursos para demandar atención, exigir comida, pedir ayuda o simplemente mantener ocupada a la gente. Nuestras actitudes de adultos reflejan o mucho o poco que algunos maduraron, procesaron y rebasaron ese periodo.
     Para que exista un manipulador, debe haber una base de cudadanos indefensos, dóciles, desinformados. El
manipulador es celoso, a veces casi paranoico; no admite cuestionamientos ni quiere que nadie ocupe su espacio, sabe que su vigencia depende de presencia controladora. Todos los días, hay que marcar la línea de discurso, incidir en el debate. El ridículo vale la pena si con ello se logra una cortina de humo.
Nesse texto, a expressão “cortina de humo” revela que o manipulador
(A) amadurece tardiamente.
(B) busca mascarar a verdade.
(C) rejeita questionamentos alheios.
(D) aproxima-se de pessoas indefesas.
(E) faz-se presente de forma controladora.
Resolução
O texto da revista Forbes aborda as atitudes de um manipulador desde a infância e como isso perdura na vida adulta. A expressão “una cortina de humo” traduzida para a língua portuguesa significa “uma cortina de fumaça, é o disfarce diante de uma situação. Por isso, o manipulador busca mascarar a verdade.
A alternativa A) não é correta porque não cita o processo de amadurecimento do ser humano. Nas demais alternativas vemos no texto o uso de palavras e expressões “controlador, a não aceitação do questionamento alheio e que pessoas indefesas permitem que se perdure a postura do manipulador”. No entanto, elas não se relacionam com o significado da expressão “una cortina de humo”.
Alternativa: B
 
10) (ENEM - 1023)
Que quede claro
Cómo es posible que se cierren tantas bocas, tantos ojos, tantas puertas, muchas mentes ante um acto xenofóbico sin precedentes.
Presidentes, ministros, cancilleres, autoridades, responsables. ¿Quién pagará el daño causado a familiares? Por un loco del estrada sin modales. [...]
Se alejó de aquel lugar donde su color era mucho más que su color, era su raza.
Persiguiendo un sueño que desapareció, que se fusionó y terminó en una pesadilla. [...]
Déjame que te cuente esta historia que sucedió en el metro de Barcelona, cuando aquella mañana la injusticia
y xenofobia se juntaron de la mano, protagonizando una de las más feas escenas de racismo.
En aquel vagón viajaba un ángel de color diferente, en su camino se interpuso aquel inconsciente, que aún sabiendo lo que hacía, seguía hablando con su gente.
Le dio al ángel dos patadas en su cara, se rió de ella sin cambiar la mirada.
Y aún anda suelto, aún anda suelto...
A letra da canção Que quede claro, da banda cubana Orishas, revela o(a)
(A) indignação diante do desrespeito à diversidade.
(B) violência característica das grandes metrópoles.
(C) preconceito da sociedade com relação ao misticismo.
(D) descuido da população com os sonhos dos imigrantes
(E) falta de segurança existente no transporte público
urbano.
Resolução
A letra da canção “Que quede claro”, o uso do verbo “quedar” significa “que fique claro”; na letra podemos ver o relato da violência devido à discriminação racial, e a indignação do compositor, pois as autoridades e a sociedade fecham os olhos diante desses fatos.
A alternativa B) não é correta porque não há citação que isso ocorra apenas em grandes metrópoles.
Alternativa C: não há o misticismo.
Alternativa D: não aborda unicamente o sonho dos imigrantes.
Alternativa E: o tema não é a falta de segurança nos transportes públicos.
Alternativa; A

11) (ENEM - 1023)
     A sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI) aprovou uma mudança histórica e inédita no lema olímpico, criado em 1894 pelo Barão Pierre de Coubertin para expressar os valores e a excelência do esporte. Mais de 120 anos depois, o lema tem sua primeira alteração para ressaltar a solidariedade e incluir a palavra "juntos": mais rápido, mais alto, mais forte – juntos. A mudança foi aprovada por unanimidade pelos membros do COI e celebrada pelo presidente da entidade.
De acordo com o texto, a alteração do lema olímpico teve como objetivo a
(A) unificação do lema anterior ao atual.
(B) aproximação entre o lema olímpico e o COl.
(C) junção do lema olímpico com os princípios esportivos.
(D) associação entre o lema olímpico e a cooperatividade.
(E) vinculação entre o lema olímpico e os eventos atléticos.
Resolução
O acréscimo da palavra “juntos” ao lema do Comitê Olímpico Internacional teve como objetivo ressaltar a solidariedade entre os atletas e os povos que eles representam.
Alternativa: D

12) (ENEM - 1023)
Mais iluminada que outras
    Tenho dois seios, estas duas coxas, duas mãos que me são muito úteis, olhos escuros, estas duas sobrancelhas que preencho com maquiagem comprada por dezenove e noventa e orelhas que não aceitam bijuterias. Este corpo é um corpo faminto, dentado, cruel, capaz e violento. Movo os braços e multidões correm desesperadas. Caminho no escuro com o rosto para baixo, pois cada parte isolada de mim tem sua própria vida e não quero domá-las. Animal da caatinga. Forte demais. Engolidora de espadas e espinhos.
     Dizem e eu ouvi, mas depois também li, que o estado do Ceará aboliu a escravidão quatro anos antes do restante do país. Todos aqueles corpos que eram trazidos com seus dedos contados, seus calcanhares prontos e seus umbigos em fogo, todos eles foram interrompidos no porto. Um homem – dizem e eu ouvi e depois também li – liderou o levante. E todos esses corpos foram buscar outros incômodos. Foram ser incomodados.
Nesse texto, os recursos expressivos usados pela narradora
(A) revelam as marcas da violência de raça e de gênero na construção da identidade.
(B) questionam o pioneirismo do estado do Ceará no enfrentamento à escravidão.
(C) reproduzem padrões estéticos em busca da valorização da autoestima feminina.
(D) sugerem uma atmosfera onírica alinhada ao desejo de resgate da espiritualidade.
(E) mimetizam, na paisagem, os corpos transformados pela violência da escravidão.
Resolução
As marcas de violência de raça e de gênero ficam evidentes na caracterização que a narradora faz de seu próprio corpo.
Alternativa: A

13) (ENEM - 1023)
De quem é esta língua?
     Uma pequena editora brasileira, a Urutau, acaba de lançar em Lisboa uma "antologia antirracista de poetas estrangeiros em Portugal", com o título Volta para a tua terra.
     O livro denuncia as diversas formas de racismo a que os imigrantes estão sujeitos. Alguns dos poetas brasi- leiros antologiados queixam-se do desdém com que um grande número de portugueses acolhe o português bra- sileiro. É uma queixa frequente.
     "Aqui em Portugal eles dizem /– eles dizem – / que nosso português é errado, que nós não falamos portu -
guês", escreve a poetisa paulista Maria Giulia Pinheiro, para concluir: "Se a sua linguagem, a lusitana, / ainda conserva a palavra da opressão / ela não é a mais bonita do mundo./ Ela é uma das mais violentas".

O texto de Agualusa tematiza o preconceito em relação ao português brasileiro. Com base no trecho citado pelo autor, infere-se que esse preconceito se deve
(A) à dificuldade de consolidação da literatura brasileira em outros países.
(B) aos diferentes graus de instrução formal entre os falantes de língua portuguesa.
(C) à existência de uma língua ideal que alguns falantes lusitanos creem ser a falada em Portugal.
(D) ao intercâmbio cultural que ocorre entre os povos dos diferentes países de língua portuguesa.
(E) à distância territorial entre os falantes do português que vivem em Portugal e no Brasil.
Resolução
O preconceito linguístico sofrido por autores brasileiros em Portugal decorre da visão idealizada de alguns lusitanos de que a língua não sofre variações nem geográficas, nem temporais.
Alternativa: C

14) (ENEM - 1023) Na Idade Média, as notícias se propagavam com supreendente eficácia. Segundo uma emérita professora de Sorbonne, um cavalo era capaz de percorrer 30 quilômetros por dia, mas o tempo podia se acelerar dependendo do interesse da notícia. As ordens mendicantes tinham um papel importante na disseminação de informações, assim como os jograis, os peregrinos e os vagabundos, porque todos eles percorriam grandes distâncias. As cidades também tinham correios organizados e selos para lacrar mensagens e tentar certificar a veracidade das correspondências. Graças a tudo isso, a circulação de boatos era intensa e politicamente relevante. Um exemplo clássico de fake news da era medieval é a história do rei que desaparece na batalha e reaparece muito depois, idoso e transformado.
A propagação sistemática de informações é um fenômeno recorrente na história e no desenvolvimento das sociedades. No texto, a eficácia dessa propagação está diretamente relacionada ao(à)
(A) velocidade de circulação das notícias.
(B) nível de letramento da população marginalizada.
(C) poder de censura por parte dos serviços públicos.
(D) legitimidade da voz dos representantes da nobreza.
(E) diversidade dos meios disponíveis em uma época histórica.
Resolução:
O texto do El País apresenta diversas maneiras pelas quais as notícias circulavam na Idade Média: uma notícia poderia ser enviada a cavalo, poderia circular por intermédio de jograis, peregrinos e vagabundos, e até por correios organizados. Dessa forma, evidencia-se que a efetividade da propagação de notícias está ligada à diversidade dos meios existentes nessa época.
Alternativa: E

15) (ENEM - 1023)
     Se a interferência de contas falsas em discussões políticas nas redes sociais já representava um perigo para
os sistemas democráticos, sua sofisticação e maior semelhança com pessoas reais têm agravado o problema pelo mundo.
     O perigo cresceu porque a tecnologia e os métodos evoluíram dos robôs, os “bots” — softwares com tarefas
on-line automatizadas —, para os “ciborgues” ou “trolls”, contas controladas diretamente por humanos com ajuda de um pouco de automação.
     Mas pesquisadores começam agora a observar outros padrões de comportamento: quando mensagens não são programadas, sua publicação se concentra só em horários de trabalho, já que é controlada por pessoas cuja profissão é exatamente essa, administrar um perfil falso durante o dia.
     Outra pista: a pobreza vocabular das mensagens publicadas por esses perfis. Um funcionário de uma empresa que supostamente produzia e vendia perfis falsos explica que às vezes “faltava criatividade” para criar mensagens distintas controlando tantos perfis falsos ao mesmo tempo.
De acordo com o texto, a análise de caracteristícas da linguagem empregada por perfis automatizados contribui
para o(a)
(A) controle da atuação dos profissionais de TI.
(B) desenvolvimento de tecnologias como os “trolls”.
(C) flexibilização dos turnos de trabalho dos controladores.
(D) necessidade de regulamentação do funcionamento dos “bots”.
(E) identificação de padrões de disseminação de informações inverídicas.
Resolução
O texto evidencia que as publicações feitas a partir de contas falsas seguem determinados padrões, como apontado por pesquisadores. Dentre as características, pode-se mencionar a publicação em horários de trabalho e a pobreza vocabular decorrente da falta de criatividade.
Alternativa: E

16) (ENEM - 1023)
     Maio foi colorido de amarelo, e o foi porque mundialmente amarelo é a cor convencionada para as advertências. No trânsito, essas advertências têm sido fatais. A estimativa, caso nada seja feito, é a de que se
atinjam assustadoras 2,4 milhões de mortes no trânsito em 2030 em todo o mundo.
     A pressa constante, o sentimento de invencibilidade, a certeza de invulnerabilidade, a necessidade de poder, a falta de civilidade, a certeza de impunidade, a ausência de solidariedade, a inexistência de compaixão e o desrespeito por si próprio são circunstâncias reais que, não raro, concorrem para o comportamento violento no trânsito.
     O Maio Amarelo, que preconiza a atenção pela vida, é uma das iniciativas nesse sentido. E é precisamente a atenção pela vida que está esquecida. Essa atenção, por certo, requer menos pressa, mais civilidade, limites assegurados, consciência de vulnerabilidade, solida riedade, compaixão e respeito por si e pelo outro. Reafirmar e praticar esses princípios e valores talvez seja um caminho mais seguro e menos violento, que garanta a vida e não celebre a morte.
Considerando os procedimentos argumentativos utilizados, infere-se que o objetivo desse texto é
(A) enumerar as causas determinantes da violência no trânsito.
(B) contextualizar a campanha de advertência no cenário mundial.
(C) divulgar dados numéricos a alarmantes sobre acidentes de trânsito.
(D) sensibilizar o público para a importância de uma direção responsável.
(E) restringir os problemas da violência no trânsito a aspectos emocionais.
Resolução
O texto divulgado no site www.portaldotransito.com.br.ressalta a importância de refletie sobre ações que preservem, protejam a vida no que se refere ao comportamento no trânsito. Ao destacar “pressa constante, sentimento de invencibilidade, a certeza de invulnerabilidade”, dentre outras características que resultam no comportamento violento no trânsito, que ameaça a vida, o texto busca sensibilizar o público para a importância de uma direção responsável.
Alternativa: D

17) (ENEM - 1023)
     Ainda daquela vez pude constatar a bizarrice dos costumes que constituíam as leis mais ou menos constantes do seu mundo: ao me aproximar, verifiquei que o Sr. Timóteo, gordo e suado, trajava um vestido de franjas e lantejoulas que pertencera a sua mãe. O corpete descia-lhe excessivamente justo na cintura, e aqui e ali rebentava através da costura um pouco da carne aprisionada, esgarçando a fazenda e tornando o prazer de vestir-se daquele modo uma autêntica espécie de suplício.
Movia-se ele com lentidão, meneando todas as suas franjas e abanando-se vigorosamente com um desses leques de madeira de sândalo, o que o envolvia numa enjoativa onda de perfume. Não sei direito o que colocara sobre a cabeça, assemelhava-se mais a um turbante ou a um chapéu sem abas de onde saíam vigorosas mechas de cabelos alourados.
Como era costume seu também, trazia o rosto pintado — e para isto, bem como para suas vestimentas, apoderara-se de todo o guarda-roupa deixado por sua mãe, também em sua época famosa pela extravagância com que se vestia — o que sem dúvida fazia sobressair-lhe o nariz enorme, tão característico da família Meneses.

ela voz de uma empregada da casa, a descrição de um dos membros da família exemplifica a renovação da ficção urbana nos anos 1950, aqui observada na
(A) opção por termos e expressões de sentido ambíguo.
(B) crítica social inspirada pelo convívio com os patrões.
(C) descrição impressionista do fetiche do personagem.
(D) presença de um foco narrativo de caráter impreciso.
(E) ambiência de mistério das relações entre familiares.
Resolução
No excerto apresentado, a narradora descreve as vestimentas de Timotéo e os efeitos por elas desencadeados
de modo peculiar, como em “Rebentava... um pouco de carne aprisionada”, “tornando o prazer... uma autêntica fonte de suplício”, “o que o envolvia numa enjoativa onda de perfume”. Observa-se então a importância do olhar da narradora e a caracterização singular do personagem, sobretudo relacionada ao fetiche de Timóteo ao utilizar as antigas roupas da mãe.
Alternativa: C

18) (ENEM - 1023)
Girassol da madrugada
Teu dedo curioso me segue lento no rosto
Os sulcos, as sombras machucadas por onde a vida passou.
Que silêncio, prenda minha... Que desvio triunfal da verdade,
Que círculos vagarosos na lagoa em que uma asa
[gratuita roçou...
Tive quatro amores eternos...
O primeiro era moça donzela,
O segundo... eclipse, boi que fala, cataclisma,
O terceiro era a rica senhora,
O quarto és tu... E eu afinal me repousei dos meus cuidados
Perante o outro, o eu lírico revela, na força das memórias evocadas, a
(A) vergonha das marcas provocadas pela passagem do tempo.
(B) indecisão em face das possibilidades afetivas do presente.
(C) serenidade sedimentada pela entrega pacífica ao desejo.
(D) frustração causada pela vontade de retorno ao passado.
(E) disponibilidade para a exploração do prazer efêmero.
Resolução
O eu lírico afirma ter vivido três amores antes de encontrar seu último amor “eterno”. Assim, as experiências passadas sustentam a tranquilidade dessa nova vivência. As memórias evocadas, portanto, tornam pacífica a entrega ao desejo.
Alternativa: C

19) (ENEM - 1023)
Dão Lalalão
     Do povoado do Ão, ou dos sítios perto, alguém precisava urgente de querer vir por escutar a novela do rádio. Ouvia-a, aprendia-a, guardava na ideia, e, retornado ao Ão, no dia seguinte, a repetia a outros,
     Assim estavam jantando, vinham os do povoado receber a nova parte da novela do rádio. Ouvir já tinham
ouvido tudo, de uma vez, fugia da regra: falhara ali no Ão, na véspera, o caminhão de um comprador de galinhas e ovos, seo Abrãozinho Buristém, que carregava um rádio pequeno, de pilhas, armara um fio no arame da cerca... Mas queriam escutar outra vez, por confirmação. — “A estória é estável de boa, mal que acompridada: taca e nãorende...” – explicava o Zuz ao Dalberto.
     Soropita começou a recontar o capítulo da novela. Sem trabalho, se recordava das palavras, até com clareza — disso se admirava. Contava com prazer de demorar, encher a sala com o poder de outros altos personagens.
Tomar a atenção de todos, pudesse contar aquilo noite adiante. Era preciso trazer luz, nem uns enxergavam mais os outros; quando alguém ria, ria de muito longe. O capítulo da novela estava terminando.
Nesse trecho do conto, o gosto dos moradores do povoado por ouvir a novela de rádio recontada por Soropita deve-se ao(à)
(A) qualidade do som do rádio.
(B) estabilidade do enredo contado.
(C) ineditismo do capítulo da novela.
(D) jeito singular de falar aos ouvintes.
(E) dificuldade de compreensão da história.
Resolução
O gosto dos moradores do povoado por ouvir a novela de rádio recontada por Soropita deve-se ao jeito singular de falar aos ouvintes, pois recontava a história pessoalmente com prazer e demorando-se mais no enredo. Assim, tomava a atenção de todos.
Alternativa: D

20) (ENEM - 1023)
     As cinzas do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, consumido pelas chamas no mês de setembro de 2018, são mais do que restos de fósseis, cerâmicas e espécimes raros. O museu abrigava, entre mais de 20 milhões de peças, os esqueletos com as respostas para perguntas que ainda não haviam sido respondidas — ou sequer feitas — por pesquisadores brasileiros. E o incêndio pode ter calado para sempre palavras e cantos indígenas ancestrais, de línguas que não existem mais no mundo.
     O acervo do local continha gravações de conversas, cantos e rituais de dezenas de sociedades indígenas,
muitas feitas durante a década de 1960 com antigos gravadores de rolo e que ainda não haviam sido digitalizadas. Alguns dos registros abordavam línguas já extintas sem falantes originais ainda vivos. “A esperança é que outras instituições tenham registros dessas línguas’, diz a linguista Marília Facó Soares. A pesquisadora, que trabalha com os índios Tikuna, o maior grupo da Amazônia brasileira, crê ter perdido parte de seu material. “Terei que fazer novas viagens de campo para recompor meus arquivos. Mas obviamente não dá para recuperar a fala de nativos já falecidos, geralmente os mais idosos”, lamenta.
A perda dos registros linguísticos no incêndio do Museu Nacional tem impacto potencializado, uma vez que
(A) exige a retomada das pesquisas por especialistas de diferentes áreas.
(B) representa danos irreparáveis à memória e à identidade nacionais.
(C) impossibilita o surgimento de novas pesquisas na área.
(D) resulta na extinção da cultura de povos originários.
(E) inviabiliza o estudo da língua do povo Tikuna.
Resolução
O incêndio no Museu Nacional causou perdas irrecuperáveis à memória e à identidade brasileira.
Essa perda é exemplificada nos trechos: “o incêndio pode ter calado para sempre palavras e cantos indígenas ancestrais, de línguas que não existem mais no mundo” e “Alguns dos registros abordavam línguas já extintas, sem falantes originais ainda vivos”.
Alternativa: B

21) (ENEM - 1023)

Mandioca, macaxeira, aipim e castelinha são nomes diferentes da mesma planta. Semáforo, sinaleiro e farol
também significam a mesma coisa. O que muda é só o hábito cultural de cada região. A mesma coisa acontece
com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Embora ela seja a comunicação oficial da comunidade surda no Brasil, existem sinais que variam em relação à região, à idade e até ao gênero de quem se comunica. A cor verde, por exemplo, possui sinais diferentes no Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo. São os regionalismos na língua de sinais.
Essas variações são um dos temas da disciplina Linguística na língua de sinais, oferecida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) ao longo do segundo semestre. “Muitas pessoas pensam que a língua de sinais é uni versal, o que não é verdade”, explica a professora e chefe do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas da Unesp. “Mesmo dentro de um mesmo país, ela sofre variação em relação à localização geográfica, à faixa etária e até ao gênero dos usuários” completa a especialista.
Os surdos podem criar sinais diferentes para identificar lugares, objetos e conceitos. Em São Paulo, o sinal de
“cerveja” é feito com um giro do punho como uma meiavolta. Em Minas, a bebida é citada quando os dedos indicador e médio batem no lado do rosto. Também ocorrem mudanças históricas. Um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o utiliza.
(A) passa por fenômenos de variação linguística como qualquer outra língua.
(B) apresenta variações regionais, assumindo novo sentido para algumas palavras.
(C) sofre mudança estrutural motivada pelo uso de sinais diferentes para algumas palavras.
(D) diferencia-se em todo o Brasil, desenvolvendo cada região a sua própria língua de sinais.
(E) é ininteligível para parte dos usuários em razão das mudanças de sinais motivadas geograficamente.
Resolução
Segundo a especialista, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) não é uma língua sem variação de signo, ou seja, sofre mudança dos que se comunicam em relação à região, à idade e até ao gênero. Os diferentes sinais para a cor verde ou cerveja comprovam essa variação.
Alternativa: A

22) (ENEM - 1023)

Como é bom reencontrar os leitores da Revista da Cultura por meio de uma publicação com outro visual, conteúdode qualidade e interesses ampliados! ]cultura[, este nome simples, e eu diria mesmo familiar, nasce entre dois colchetes voltados para fora. E não é por acaso: são sinais abertos, receptivos, propícios à circulação de ideias. O DNA da publicação se mantém o mesmo, afinal, por longos anos montamos nossas edições com assuntos saídos das estantes de uma grande livraria – e assim continuará sendo. Literatura, sociologia, filosofia, artes... nunca será difícil montar a pauta da revista porque os livros nos ensinam que monotonia é só para quem não lê.
O uso não padrão dos colchetes para nomear a revista atribui-lhes uma nova função e está correlacionado ao(à)
(A) perfil de público-alvo, constituído por leitores exigentes e especializados em leitura acadêmica.
(B) propósito do editor, chamando a atenção para o rigor normativo nos textos da revista.
(C) exclusividade na seleção temática, direcionada para a área das ciências humanas.
(D) identidade da revista, voltada para a recepção e a promoção de ideias circulantes em livros.
(E) padrão editorial dos artigos, organizados em torno de uma proposta de design inovador.
Resolução
O artigo inicia-se reconhecendo que leitores apreciadores da revista acompanham as suas publicações, cuja identidade tem sido construída a partir de uma visão inovadora, exemplificada pelo uso diferenciado dos colchetes, símbolos de abertura, “propícios à circu lação de ideias” que circulam em livros.
Alternativa: D

23) (ENEM - 1023)
TEXTO I
Alegria, alegria
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não?

TEXTO II
Anjos tronchos
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis
Agora a minha história é um denso algoritmo
Que vende venda a vendedores reais
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo
E mais, e mais, e mais, e mais, e mais
Embora oriundas de momentos históricos diferentes, essas letras de canção têm em comum a
(A) referência às cores como elemento de crítica a hábitos contemporâneos.
(B) percepção da profusão de informações gerada pela tecnologia.
(C) contraposição entre os vícios e as virtudes da vida moderna.
(D) busca constante pela liberdade de expressão individual.
(E) crítica à finalidade comercial das notícias.
Resolução
As letras das canções “Alegria, alegria” e “Anjos tronchos”, ambas de autoria de Caetano Veloso, abordam criticamente a influência da tecnologia na profusão de informações no mundo moderno. Esse fenômeno evidencia-se, no texto 1, em “O sol nas bancas de revista” “Eu vou / Por entre fotos e nomes / Os olhos cheios de cores” e no texto 2, em “Agora minha história é um denso algoritmo / Que vende venda a vendedores reais”.
Alternativa: B

24) (ENEM - 1023)
     “São tantas formas de matar um preto
     Que para alguns sua morte é justificada
     Devia tá fazendo coisa errada
     Se não era bandido, um dia ia ser
     Por ser PRETO sua morte é defendida
     O PRETO sempre merece morrer”.
     A estrofe acima é do poeta e educador social Baticum
Proletário, que atua na periferia de Fortaleza, no Ceará, preparando jovens — em quase sua totalidade negros — para enfrentar as dificuldades impostas pelo racismo estrutural no país.
     É a partir da arte que Baticum consegue envolver a juventude em um projeto de fortalecimento dessa população ao promover batalhas de rimas, slams e saraus com temáticas que discutem os problemas sociais. Não por acaso, o tema mais explorado nas rimas, versos e prosas é a violência. De acordo com o mais recente Atlas da violência, em 2019, os negros representaram 77% das vítimas de homicídios, quase 30 assassinatos por 100 mil habitantes, a maioria deles jovens.
     O Atlas revela ainda que um negro tem quase 2,7 vezes mais chance de ser morto do que um branco, o que
justifica o movimento de resistência crescente no Brasil.
O uso de citação e de dados estatísticos nesse texto tem o objetivo de
(A) ressaltar a importância da poesia para denunciar a morte de negros, que cresce a cada dia.
(B) destacar o crescimento exponencial da temática do preconceito na produção literária no Brasil.
(C) demonstrar o incremento no quantitativo de expressões artísticas na discussão de problemas sociais.
(D) evidenciar argumentos que reforçam a ideia de que os negros são vítimas em potencial da violência.
(E) salientar o aumento da participação de jovens nos movimentos de resistência na área da cultura.
Resolução
O uso da citação da estrofe do poeta Baticum Proletário, no início do texto, bem como a apresentação dos dados estatísticos, ao longo dele, objetivam evidenciar argumentos que reforçam a ideia de que os negros são potencial e majoritariamente vítimas da violência no Brasil.
Alternativa: D

25) (ENEM - 1023)   No princípio era o verbo. A frase que abre o primeiro capítulo do Evangelho de João e remete à criação do mundo, assim como também faz o Gênesis, é a mais famosa da Bíblia. A ideia de que o mundo é criado pela
palavra, porém, é tão estruturante que está presente em outras religiões, para muito além das fundadas no cristianismo. Como humanos, a linguagem é o mundo que habitamos. Basta tentar imaginar um mundo em que não podemos usar palavras para dizer de nós e dos outros para compreender o que isso significa. Ou um mundo em que aquilo que você diz não é entendido pelo outro, e o que o outro diz não é entendido por você.
     O que acontece então quando a palavra é destruída e, com ela, a linguagem?
   Durante séculos, em diferentes sociedades e línguas, é importante lembrar, a linguagem serviu — e ainda serve — para manter privilégios de grupos de poder e deixar todos os outros de fora. Quem entende linguagem de advogados, juízes e promotores, linguagem de médicos, linguagem de burocratas, linguagem de cientistas? A maior parte da população foi submetida à violência de propositalmente ser impedida de compreender a linguagem daqueles que determinam seus destinos.
     Se o princípio é o verbo, o fim pode ser o silencia mento. Mesmo que ele seja cheio de gritos entre aqueles que já não têm linguagem comum para compreender uns aos outros.
Nesse texto, a estratégia usada para convencer o leitor de que uma grande parcela da população não compreende a linguagem daqueles que detêm o poder foi
(A) revelar a origem religiosa da linguagem.
(B) questionar o temor sobre o futuro da linguagem.
(C) descrever a relação entre sociedade e linguagem
(D) apresentar as consequências do esfacelamento da linguagem.
(E) criticar o obstáculo promovido pelos usos especializa dos da linguagem.
Resolução
A estratégia argumentativa utilizada pela autora do texto é a crítica àquilo que ela considera um obstáculo, promovido pelos usos especializados da linguagem por parte daqueles que detêm o poder. Dessa forma, uma
grande parcela da população é submetida, segundo a autora, a uma violência, pois é “impedida de compreen der a linguagem daqueles que determinam seus destinos”.
Alternativa: E

26) (ENEM - 1023)    
     Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará desenvolveu um dicionário para traduzir
sintomas de doenças da linguagem popular para os termos médicos. Defruço, chanha e piloura, por exemplo, podem ser termos conhecidos para muitos, mas, durante uma consulta médica, o desconhecimento pode significar um diagnóstico errado.
     “Isso é um registro histórico e pode ser muito útil para estudos dessas comunidades, na abordagem médica delas. É de certa forma pioneiro no Brasil e, sem dúvida, um instrumento de trabalho importante, porque a comunicação é fundamental na relação médico-paciente”, avalia o reitor da instituição.
Ao registrarem usos regionais de termos da área médica, Pesquisadores
(A) apontaram erros motivados pelo desconhecimento da variedade linguística local.
(B) explicaram problemas provocados pela incapacidade de comunicação.
(C) descobriram novos sintomas de doenças existentes na comunidade.
(D) propiciaram melhor compreensão dos sintomas dos pacientes.
(E) divulgaram um novo rol de doenças características da localidade.
Resolução
De acordo com o texto, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará criaram um dicionário com termos regionais que auxilia a comunicação entre médicos e pacientes, uma vez que a falta de conhecimento dessas palavras pelos médicos pode levar a um diagnóstico incorreto.
Alternativa: D

27) (ENEM - 1023) Alguém muito recentemente cortara o mato, que na época das chuvas crescia e rodeava a casa da mãe de
Ponciá Vicêncio e de Luandi. Havia também vestígios de que a terra fora revolvida, como se ali fosse plantar uma pequena roça. Luandi sorriu. A mãe devia estar bastante forte, pois ainda labutava a terra. Cantou alto uma cantiga que aprendera com o pai, quando eles trabalhavam na terra dos brancos. Era uma canção que os negros mais velhos ensinavam aos mais novos. Eles diziam ser uma cantiga de voltar, que os homens, lá na África, entoavam sempre, quando estavam regressando da pesca, da caça ou de algum lugar. O pai de Luandi, no dia em que queria agradar à mulher, costumava entoar aquela cantiga ao se aproximar de casa. Luandi não entendia as palavras do canto; sabia, porém, que era uma língua que alguns negros falavam ainda, principalmente os velhos. Era uma cantiga alegre. Luandi, além de cantar, acompanhava o ritmo batendo com as palmas das mãos em um atabaque imaginário. Estava de regresso à terra. Voltava em casa. Chegava cantando, dançando a doce e vitoriosa cantiga de regressar.
A leitura do texto permite reconhecer a “cantiga de voltar’ como patrimônio linguístico que
(A) representa a memória de uma língua africana extinta.
(B) exalta a rotina executada por jovens afrodescendentes.
(C) preserva a ancestralidade africana por meio da tradição oral.
(D) resgata a musicalidade africana por meio de palavras inteligíveis.
(E) remonta à tristeza dos negros mais velhos com saudade da África.
Resolução
Segundo o texto, as “cantigas de voltar” eram ensinadas pelos negros mais velhos aos mais novos, por meio da tradição oral. Essas canções eram originalmente, entoa das no retorno de “homens lá na África” ao seu
lar. Elas expressam, portanto, a preservação da “ancestralidade africana”.
Alternativa: C

28) (ENEM - 1023)
TEXTO I
     Zapeei os canais, como há dezenas de anos faço, e pá: parei num que exibia um episódio daquela velha família do futuro, Os Jetsons.
     Nesse episódio em particular, a Jane Jetson, esposa doGeorge, tratava de dirigir aquele veículo voador deles.
Meu queixo foi caindo à medida que as piadinhas machistas sobre mulheres dirigirem foram se acumulando.
Impressionante! Que futuro careta aqueles roteiristas imaginavam! Seriam incapazes de projetar algo melhor, e não apenas em termos de tecnologias, robôs e carros voadores? Será que nossa máxima visão de futuro só atinge as coisas, e jamais as pessoas? Como a Jane, uma mulher de 33 anos no desenho, poderia ser o que foram as minhas bisavós? O futuro, naquele desenho, se esqueceu de ser melhor nas relações entre as pessoas. Aliás… tão parecido com a vida.
     Fiquei de cara, como dizemos aqui, ou como dizíamos na minha adolescência, pobre adolescência, aprendendo, sem querer e sem muita defesa, um futuro tão besta quanto o passado.

TEXTO II

     Masculino e feminino são campos escorregadios que só se definem por oposição, sempre incompleta, um do outro. São formações imaginárias que buscam produzir uma diferença radical e complementar onde só existem, de fato, mínimas diferenças. O resto é questão de estilo. Até pelo menos a segunda metade do século 19, o divisor de águas era claro: os homens ocupavam o espaço público. As mulheres tratavam da vida privada. Privada de quê? De visibilidade, diria Hannah Arendt. De visibilidade pública. Do que as mulheres estiveram privadas até o século 20 foi de presença pública manifesta não em imagem, mas em palavra. A palavra feminina, reservada ao espaço doméstico, não produzia diferença na vida social.
A representação da mulher apresentada no Texto I pode ser explicada pelo Texto II no que diz respeito à(às)
(A) censura a formas de expressão femininas.
(B) ausência da figura feminina na vida pública.
(C) construções imaginárias cristalizadas na sociedade.
(D) limitações inerentes às figuras femininas e masculinas.
(E) dificuldade na atribuição de papéis masculinos e femininos.
Resolução
No texto II, evidencia-se que, por estar ausente do espaço público, a imagem do feminino foi cristalizada, ligando-a apenas ao âmbito doméstico. Essa representação, perpetuada por gerações, é questionada no texto I que aponta o machismo nas piadinhas feitas sobre a personagem Jane Jetson, ao dirigir um veículo voa dor em um cenário futurístico.
Alternativa: C

29) (ENEM - 1023)
Esse anúncio publicitário, veiculado durante o contexto da pandemia de covid-19, tem por finalidade
(A) divulgar o canal telefônico de atendimento a casos de violência contra a mulher.
(B) informar sobre a atuação de uma entidade defensora da mulher vítima de violência.
(C) evidenciar o trabalho da Defensoria Pública em relação ao problema do abuso contra a mulher.
(D) alertar a sociedade sobre o aumento da violência contra a mulher em decorrência do coronavírus.
(E) incentivar o público feminino a denunciar crimes de violência contra a mulher durante o período de isolamento.
Resolução
O texto verbal e o não verbal que compõem o cartaz colocam as mulheres no cerne da mensagem contra a violência de gênero, por meio da imagem das três mulheres e da hastag (#JuntasSomosMaisFortes) por exemplo. Portanto, trata-se de incentivar o público feminino a denunciar crimes de violência contra elas.
Alternativa: E

30) (ENEM - 1023) Passado muito tempo, resolvi tentar falar, porque estava sozinha me embrenhando na mesma vereda que Donana costumava entrar. Ainda recordo da palavra que escolhi: arado. Me deleitava vendo meu pai conduzindo o arado velho da fazenda carregado pelo boi, rasgando a terra para depois lançar grãos de arroz em torrões marrons e vermelhos revolvidos. Gostava do som redondo, fácil e ruidoso que tinha ao ser enunciado. “Vou trabalhar no arado.” “Vou arar a terra.” “Seria bom ter um arado novo, esse arado tá troncho e velho.” O som que deixou minha boca era uma aberração, uma desordem, como se no lugar do pedaço perdido da língua tivesse um ovo quente. Era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada.
Com a perda de parte da língua na infância, a narradora tenta voltar a falar. Essa tentativa revela uma experiência que
(A) reflete o olhar do pai sobre as etapas do plantio.
(B) metaforiza a linguagem como ferramenta de lavoura.
(C) explicita, na busca pela palavra, o medo da solidão.
(D) confirma a frustração da narradora com relação à terra.
(E) sugere, na ausência da linguagem, a estagnação do tempo.
Resolução
Assim como o arado torto dilacera a terra, a língua cortada dilacera a palavra. A narradora se sente um arado torto porque não consegue pronunciar a palavra “arado”.
Alternativa: B

31) (ENEM - 1023)
A escravidão
     Esses meninos que aí andam jogando peteca não viram nunca um escravo... Quando crescerem, saberão que já houve no Brasil uma raça triste, votada à escravidão e ao desespero; e verão nos museus a coleção hedionda dos troncos, dos vira-mundos e dos bacalhaus; e terão notícias dos trágicos horrores de uma época maldita: filhos arrancados ao seio das mães, virgens violadas em pranto, homens assados lentamente em fornos de cal, mulheres nuas recebendo na sua mísera nudez desvalida o duplo ultraje das chicotadas e dos olhares do feitor bestial. [...]
     Mas a sua indignação nunca poderá ser tão grande como a daqueles que nasceram e cresceram em pleno
horror, no meio desse horrível drama de sangue e Iodo, sentindo dentro do ouvido e da alma, numa arrastada e contínua melopeia, o longo gemer da raça mártir — orquestração satânica de todos os soluços, de todas as
impressões, de todos os lamentos que a tortura e a injustiça podem arrancar a gargantas humanas.
(A) descrever de modo impessoal as consequências da exploração racial sobre as gerações futuras.
(B) contrapor a infância privilegiada das crianças da época à infância violentada das crianças escravizadas.
(C) antecipar o futuro apagamento das marcas da escravidão no contexto social.
(D) criticar a atenuação da violência contra os povos escravizados nas memórias retratadas pelos museus.
(E) imaginar a reação de indiferença de seus contemporâneos com os escravizados libertos.
Resolução
No texto de Bilac, opera-se em contraste entre “esses meninos que aí andam jogando peteca”, que “nunca viram um escravo”, e a condição “daqueles [meninos] que nasceram e cresceram em pleno horror” da escravidão. Há uma contraposição, portanto, entre a infância privilegiada das crianças da época e infância violentada das crianças escravizadas.
Alternativa: B

32) (ENEM - 1023) E assim as coisas continuaram acontecendo entre os dois, em quase sustos, um grande por acaso com cacoetes de gestos definitivos. Com o Nunca Mais se oferecendo o tempo todo, bastaria dizer foi um prazer ter te conhecido, bastaria não trocar telefones nem e-mails e enterrar a casualidade com a cal da sabedoria — nada poderia ser definitivo, os encontros duravam duas horas ou duas décadas ou duas vezes isso, mas em algum momento necessariamente seria o fim. De todos os grandes amores, De todos os pequenos. De todas as juras, das promessas, de todos os na-alegria-e-na-tristeza. De todos os não amores, os desamores, os casamentos para sempre, os rancores para sempre, de todas as paralelas que só se viabilizam na abstração da geometria, de todas as pequenas paixões e de todas as grandes paixões, de tudo que para na antessala da paixão, de todos os vínculos não experimentados, de todos.
O recurso que promove a progressão textual, contribuindo para a construção da ideia de que as relações amorosas têm um enredo comum, é a
(A) repetição do pronome indefinido ‘todos”.
(B) utilização do travessão na marcação do aposto.
(C) retomada do antecedente pelo pronome “isso’
(D) contraposição de ideias marcada pela conjunção mas.
(E) substantivação de expressões pela anteposição do artigo.
esolução
O pronome indefinido “todos” serve para indicar que os termos o que se refere (“todos os grandes amores”, “todos os na-alegria-e-na-tristeza”, “todos os casamentos para sempre”) têm um caráter univesal.
Dessa forma, contribui para revelar que os relacionamentos amorosos possuem um enredo comum, ou seja, igual para todos.
Alternativa: A

33) (ENEM - 1023)
A garganta é a gruta que guarda o som
     A garganta está entre a mente e o coração
Vem coisa de cima, vem coisa de baixo e de
     [repente um nó (e o que eu quero dizer?)
Às vezes, acontece um negócio esquisito
Quando eu quero falar eu grito, quando eu quero
     [gritar eu falo, o resultado
Calo.
A função emotiva presente no poema cumpre o propósito do eu lírico de
(A) revelar as desilusões amorosas,
(B) refletir sobre a censura à sua voz,
(C) expressar a dificuldade de comunicação.
(D) ressaltar a existência de pressões externas.
(E) manifestar as dores do processo de criação.
Resolução
Por meio da função emotiva, com a qual o enunciador declara o seu universo interior, o eu lírico confessa sua dificuldade de expressão, representada na metáfora do “nó” (na garganta), na hesitação em “o que eu quero dizer?”, no embate em “Quando eu quero falar eu grito, quando eu quero gritar eu falo”. Todas essas expressões têm como resultado o verso final: “Calo”.
Alternativa: C

34) (ENEM - 1023) Era um gato preto, como convinha a um cultor das boas letras, que já lera Poe traduzido por Baudelaire. Preto e gordo. E lerdo. Tão gordo e lerdo que a certa altura observei que ia perdendo inteiramente as qualidades características da raça, que são em suma o ódio de morte aos ratos. Já nem os afugentava! Os ratos de Ouro Preto são também dignos e solenes — não ria — tradicionalistas… descendentes de ratos que naqueles mesmos casarões presenciaram acontecimentos importantes da nossa história... No sobrado do desembargador Tomás Antônio Gonzaga, imagine o senhor uma reunião dos sonhadores inconfidentes, com os antepassados daqueles ratos a passearem pelo sótão ou mesmo pelo assoalho por entre as pernas dos homens absortos na esperança da independência nacional! E depois, os ancestres daqueles roedores que eu via agora deslizar sutilmente no meu quarto podiam ter subido pelo poste da ignomínia colonial, onde estava exposta a cabeça do Tiradentes! E quando as órbitas se descarnaram ignominiosamente, podiam até ter penetrado no recesso daquele crânio onde verdadeiramente ardera a literatura, com a simplicidade do heroísmo, a febre nacionalista...
Descrevendo seu gato, o narrador remete ao contexto e a protagonistas da Inconfidência para criar um efeito
desconcertante centrado no
(A) desenho imaginativo do casario colonial de Ouro Preto.
(B) efeito de apagamento de limites entre ficção e realidade.
(C) vinculo estabelecido entre animais urbanos e literatura.
(D) questionamento sutil quanto à sanidade dos inconfidentes.
(E) contraste entre austeridade pomposa e imagem repugnante.
Resolução
Ao descrever o seu gato, o narrador incorpora um contexto associado a aspectos solenes e dignos, cristalizados no sobrado do desembargador Tomás Antônio Gonzaga, onde ocorriam as reuniões em que era tramada a Inconfidência Mineira. O aspecto desconcertante ocorre quando o sonho dos inconfidentes é vinculado à baixeza dos ratos que frequentavam essa residência. Tal “ignonímia colonial” ganha destaque devido à imagem repugnante de ratos do século XVIII terem subido pelo poste, “onde estava exposta a cabeça de Tiradentes”.
Alternativa: E

35) (ENEM - 1023) Enquanto estivemos entretidos com os urubus outras coisas andaram acontecendo na cidade. A Companhia baixou novas proibições, umas inteiramente bobocas, só pelo prazer de proibir (ninguém podia cuspir pra cima, nem carregar água em jacá, nem tapar o sol com peneira, como se todo mundo estivesse abusando dessas esquisitices); mas outras bem irritantes, como a de pular muro pra cortar caminho tática que quase todo mundo que não sofria de reumatismo vinha adotando ultimamente, principalmente os meninos. E não confiando na proibição só, nem na força dos castigos, que eram rigorosos, a Companhia ainda mandou fincar cacos de garra a nos muros. Achei isso um exagero, e comentei o assunto com mamãe. Meu pai ouviu lá do quarto e veio explicar. Disse que em épocas normais bastava uma coisa ou outra, mas agora a Companhia não poda admitir nenhuma brecha em suas ordens; se alguém desobedecesse à proibição podia se cortar nos cacos; se alguém conseguisse pular um muro quebrando o corte de alguns cacos, ou jogando um couro por cima, era apanhado pela proibição, nhoc — e fez o gesto de quem torce o pescoço de um frango.
Sob a perspectiva do menino que narra, os fatos ficcionais oferecem um esboço do momento político vigente na década de 1970, aqui representado pelo
(A) culto ao medo, infiltrado em situações do cotidiano.
(B) sentimento de dúvida quanto à veracidade das informações.
(C) ambiente de sonho, delineado por imagens perturbadoras.
(D) incentivo ao desenvolvimento econômico com a iniciativa privada.
(E) espaço urbano marcado por uma política de isolamento das crianças.
Resolução
O momento ao qual o enunciado se refere é o da ditadura militar do Brasil, de 1964 a 1985. Nesse contexto, a vida cotidiana era cercada por leis que regulavam as liberdades sociais, de expressão ou locomoção, causando medo na população como mecanismo de controle e de obediência.
Alternativa: A

36) (ENEM - 1023)
Migalhas
     Entre a toalha branca e um bule de café seria inapropriado dizer eu não te amo mais. Era necessário algo mais solene, um jardim japonês para as perdas pensadas, um noturno de tempestade para arrebentar de dor, uma praia de pedras para chorar em silêncio, uma cama alta para o incenso da despedida, uma janela dando para o abismo. No entanto você abaixa os olhos e recolhe lentamente as migalhas de pão sobre a mesa posta para dois.
Nesse poema, a representação do sentimento amoroso recupera a tradição ‘rica, mas se ajusta à visão contemporânea ao
(A) invocar o interlocutor para uma tomada de posição.
(B) questionar a validade do envolvimento romântico.
(C) diluir em banalidade a comoção de um amor frustrado.
(D) transformar em paz as emoções conflituosas do casal.
(E) condicionar a existência da paixão a espaços idealizados
Resolução
A tradição lírico é recuperado ao se afirmar que o fim do relacionamento amoroso requer um cenário mais dramático que o vivenciado pelo eu lírico: uma mesa de café. Logo, o solene se dilui na banalidade do cotidiano.
Alternativa: C

37) (ENEM - 1023) O sol começa a descer por trás da vegetação da Ilha da Restinga, na outra margem do rio Paraíba, colorindo o céu de amarelo, laranja e lilás. Então se ouvem as primeiras notas do Bolero, do compositor francês Maurice Ravel, executadas pelo saxofonista Jurandy. É assim o pôr do sol da praia do Jacaré, em Cabedelo (Grande João Pessoa). Depois do Bolero, Jurandy toca Asa branca, de Luiz Gonzaga, e Meu sublime torrão, de Genival
Macedo, espécie de hino não oficial da Paraíba.
A interpretação musical de Jurandy do Sax, codinome de José Jurandy Félix, apresenta um repertório caracterizado pela
(A) inter-relação de referenciais estéticos aparentemente: distanciados.
(B) valorização de músicas que revelam mensagens de serenidade.
(C) consagração do repertório erudito como cultura dominante.
(D) iniciativa de estimulo à vocação turística da cidade.
(E) divisão hierárquica entre gêneros e estilos musicais.
Resolução
A inter-relação ocorre pelo fato de Jurandy do Sax concretizar um repertório que vai do erudito, com Ravel, até o popular, com Luiz Gonzaga e Genival Macedo.
Alternativa: A

38) (ENEM - 1023)
TEXTO I
TEXTO II
Em 1933, a obra Eternos caminhantes ingressou em urna das primeiras edições das exposições de Arte Degenerada, promovida por membros do partido nazista alemão. Nos anos seguintes, ela voltaria a ser exibida na mostra denominada Exposição da Vergonha, promovida por pequenos grupos abastados. Em 1937, essa obra foi confiscada pelo Ministério da Propaganda daquele país, na grande ação nacional-socialista contra a Arte
Degenerada”.
Quase cinquenta obras de Lasar Segall foram confiscadas pelo regime totalitário alemão na primeira metade do século XX, entre elas a obra Eternos caminhantes, considerada degenerada por
(A) representar uma estética tida como inconveniente para o ideário político vigente.
(B) manifestar um posicionamento político-cultural concebido por grupos de oposição.
(C) expressar a cultura artística por meio da representação parcial do corpo humano.
(D) apresentar uma composição que antecipa o imaginário artístico germânico.
(E) estimular discussões sobre o papel da arte na construção coletiva de cultura.
Resolução
As vanguardas modernistas que irromperam no primeiro quarto do século XX (Cubismo, Surrealismo, Dadaísmo, etc) eram demolidoras de conceitos estéticos estabelecidos. Eram tidas como inconvenientes, “degeneradas” para o ideário totalitário nazista que preconizava uma estética que exaltava os mitos germânicos expressos numa pretensa harmonia que mal requentava a concepção clássica.
Alternativa: A
 
39) (ENEM - 1023)
TEXTO I
     Logo no início de Gira, um grupo de sete bailarinas ocupa o centro da cena. Mãos cruzadas sobre a lateral esquerda do quadril, olhos fechados, troncos que pendulam sobre si mesmos em vaguíssimas órbitas, tudo nelas sugere o transe. Está estabelecido o caráter volátil do que se passará no palco dali para frente. Mas enga nase quem pensa que vai assistir a uma representação mimética dos cultos afro-brasileiros.

TEXTO II
     No diálogo que estabelece com religiões afrobrasileiras, sintetizado na descrição e na imagem do espetáculo, a dança exprime uma
(A) crítica aos movimentos padronizados do balé clássico.
(B) representação contemporânea de rituais ancestrais extintos.
(C) reelaboração estética erudita de práticas religiosas populares.
(D) releitura irônica da atmosfera mística presente no culto a entidades.
(E) oposição entre o resgate de tradições e a efemeridade da vida humana.
Resolução
O grupo Gira, através de técnicas do balé, reelabora a espontaneidade das práticas religiosas afro-brasileiras.
Alternativa: C

40) (ENEM - 1023) A indústria do esporte eletrônico é um mercado que está crescendo em um ritmo mais rápido do que a economia mundial. Sua popularidade cresceu muito e no Brasil não é diferente. De acordo com os dados de uma pesquisa, mais de 64% dos brasileiros que jogam videogame já ouviram falar de esporte eletrônico. No entanto, o que chama a atenção é o crescimento superior a 10% do público praticante comparado ao ano anterior, que subiu de 44,7% para 55,4%. Trata-se de um percentual expressivo, já que o Brasil está no top 3 dentre os países que têm maior número de espectadores de esporte eletrônico do mundo. Comparado ao ano anterior, em 2020, o Brasil teve um marco de crescimento de 20% na audiência. Mundo afora, a árdua dedicação de grandes gamers contribuiu para o reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional, aliado a outras cinco federações esportivas e suas desenvolvedoras de jogos, que direcionaram um olhar mais atento ao assunto, permitindo dar o primeiro passo para concretizar, pela primeira vez na história dos jogos eletrônicos, um evento olímpico oficial.
O contexto em que o esporte eletrônico é apresentado no texto demonstra o(a)
(A) condição favorável à expansão dessa modalidade.
(B) promoção dessa prática por jogadores profissionais.
(C) impulsionamento de um processo de marketing.
(D) favorecimento de fabricantes dos jogos.
(E) modificação da audiência televisiva.
Resolução
O aumento do público praticante, do número de espectadores e da árdua dedicação de grandes “gamers” são condições que favoreceram o reconhecimento da modalidade como prática esportiva pelo Comitê Olímpico Internacional aliado a outras federações esportivas.
Alternativa: A

41) (ENEM - 1023) O Marabaixo é uma expressão artístico-cultural formada nas tradições e na identificação cultural entre as comunidades negras do Amapá. O nome remonta às mortes de escravizados em navios negreiros que eram jogados na água. Em sua homenagem, hinos de lamento eram cantados mar abaixo, mar acima. Posteriormente, o Marabaixo se integrou à vivência das comunidades negras em um ciclo de danças, cantorias com tambores e festas religiosas, recebendo, em 2018, o título de Patrimônio Cultural do Brasil.
A manifestação do Marabaixo se constituiu em expressão de arte e cultura, exercendo função de
(A) ressignificar episódios dramáticos em novas práticas culturais.
(B) adaptar coreografas como imitação dos movimentos do mar.
(C) lembrar dos mortos no passado escravista como forma de lamento.
(D) perpetuar uma narrativa de apagamento dos fatos históricos traumáticos.
(E) ritualizar a passagem de atos fúnebres nas produções coletivas com espírito festivo.
Resolução
O Marabaixo é o resultado da mescla de eventos passados a práticas culturais. Se antes a população cantava em homenagem aos que eram mortos, agora associa o canto à dança, à música e aos festejos religiosos. Há, portanto, ressignificação de episódios traumáticos em novas práticas culturais.
Alternativa: A

42) (ENEM - 1023)
     O uso das redes sociais como forma de ampliar universos foi uma descoberta recente para o artista Wolney Fernandes, que começou a criar quando o ambiente em Goiás era mais árido em relação às artes visuais. “Hoje, ser diferente é uma potência e quem sabe o que quer com a própria arte encontra espaço”, diz. As colagens artísticas do goiano aparecem em capas de obras literárias pelo Brasil e exterior.
O artista goiano Wolney Fernandes busca expor seu trabalho por meio de plataformas virtuais com o objetivo
de
(A) dar suporte à técnica de colagem em Artes Visuais, contornando dificuldades práticas.
(B) aproximar-se da estética visual própria da editoração de obras artísticas, como capas de livros.
(C) oferecer uma vitrine internacional para sua produção artística, a fim de dar mais visibilidade a suas obras.
(D) enfatizar o caráter original e inovador de suas criações artísticas, diferenciando-se das artes tradicionais.
(E) trazer um sentido tecnológico às suas colagens, uma vez que as imagens artísticas são recorrentes nas redes sociais.
Resolução
O texto trata do uso que o artista Wolney Fernandes faz das redes sociais para ampliar a visibilidade de suas obras, expondo seu trabalho a diferentes públicos (universos) em todo o mundo.
Alternativa: C

43)  (ENEM - 1023) O mais antigo grupo de rap indígena do pais, Brô MCs, surgiu em 2009, na aldeia Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Os integrantes conheceram o rap pelo rádio, ouvindo um programa que apresentava cantores e grupos brasileiros desse gênero musical. O Brô MCs conseguiu influenciar outros a fazerem rap e a lutarem pelas causas indígenas. Um dos nomes do movimento, Kunumí MC, é um jovem de 16 anos, da aldeia Krukutu, em São Paulo. O adolescente enxerga o rap como uma cultura da defesa e começou a fazer rimas quando percebeu que a poesia, pela qual sempre se interessou, podia virar música. Nas letras que cria, inspiradas tanto pelo rap quanto pelos ritmos indígenas, tenta incluir sempre assuntos aos quais acha importante dar voz, principalmente, a questão da demarcação de terras.
O movimento rap dos povos originários do Brasil revela o(a)
(A) fusão de manifestações artísticas urbanas contemporâneas com a cultura indígena.
(B) contraposição das temáticas socioambientais indígenas às questões urbanas.
(C) rejeição da indústria radiofônica às músicas indígenas.
(D) distanciamento da realidade social indígena.
(E) estímulo ao estudo da poesia indígena.
Resolução
O rap surgiu como manifestação cultural urbana da comunidade negra norte-americana. Ao ser utilizado por indígenas para apresentar suas reivindicações, além de explorar ritmos aborígenes, torna-se importante expressão cultural do grupo.
Alternativa: A

44) (ENEM - 1023)
     A petição on-line criada por um cidadão paulista surtiu efeito: casado há três anos com seu companheiro, ele pedia a alteração da definição de “casamento” no tradicional dicionário Michaelis em português. Na definição anterior, casamento aparecia como “união legítima entre homem e mulher” e “união legal entre
homem e mulher, para constituir família”.
     O novo verbete não traz em nenhum momento as palavras homem ou mulher — agora a definição de casamento se refere a “pessoas”.
     Para o diretor de comunicação do site onde a petição foi publicada, a iniciativa mostra a “eficiência da
mobilização”. “Em dois dias, mudou-se uma definição que permanecia a mesma há décadas”, afirma. E conclui: “A plataforma serve para todos os tipos de causas, para as mudanças que importam para as pessoas.”.
A notícia trata da mudança ocorrida em um dicionário da língua portuguesa. Segundo o texto, essa mudança foi impulsionada pela
(A) inclusão de informações no verbete.
(B) relevância social da instituição casamento.
(C) utilização pública da petição pelos cidadãos.
(D) rapidez na disseminação digital do verbete.
(E) divulgação de plataformas para a criação de petição.
Resolução
A mudança ocorrida no verbete “casamento”, do dicionário Michaelis, foi impulsionada por uma petição on-line de um cidadão paulista.
Alternativa: C

45) (ENEM - 1023) A neozelandesa Laurel Hubbard fez história nos Jogos Olímpicos. Apesar de ter ficado de fora da disputa por medalhas, a levantadora de peso deixou sua marca na edição de Tóquio por ser a primeira mulher abertamente transgênero a participar de uma competição olímpica. No início da carreira, na década de 1990, a neozelandesa participava de disputas na categoria masculina. Em 2001, aos 23 anos, ela se afastou da atividade. “A pressão de tentar me encaixar em um mundo que talvez não tenha sido feito para pessoas como eu se tornou um fardo muito grande para suportar”. Em 2012, Laurel começou sua transição de gênero por meio de terapias hormonais e, em 2013, declarou abertamente ser uma mulher trans. Para o Comitê Olímpico Internacional, a participação de mulheres trans nos Jogos é permitida caso o nível de testosterona, hormônio que aumenta a massa muscular, esteja abaixo de 10 nanomols por litro por pelo menos 12 meses.
No texto, os limites do potencial inclusivo do esporte são dados pela
(A) dificuldade de conseguir bons resultados esportivos.
(B) dependência de características biológicas padronizadas.
(C) inexistência de uma categoria para pessoas transgênero.
(D) necessidade de afastamento temporário das competições.
(E) impossibilidade de uso controlado de substâncias exógenas.
Resolução
Os limites do potencial inclusivo para a participação de mulheres trans nos Jogos Olímpicos dependem de características biológicas padronizadas. O nível de testosterona deve estar “abaixo de 10 nano mols por litro por pelo menos 12 meses”.
Alternativa: B

46) (ENEM - 1023) “Ganhei 25 medalhas em mundiais, sete em Jogos Olímpicos, e sou uma sobrevivente de abuso sexual.” Foi assim que Simone Biles se apresentou ao comitê do Senado norte-americano que investiga as supostas falhas do FBI no caso Larry Nassar. Biles e outras três atletas, vítimas dos abusos do ex-médico da equipe de ginástica feminina dos EUA, exigiram que os agentes da investigação sejam processados por falta de ação prévia contra Nassar agora preso. Biles esclareceu que culpa Larry Nassar e “todo o sistema que o permitiu e o perpetrou”, acusando a Federação de Ginástica e o Comitê Olímpico dos Estados Unidos de saberem “muito antes” que ela havia sofrido abusos. A melhor ginasta do mundo é um ícone. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, uma lesão psicológica a impediu de competir como previa. No entanto, ela chegou ao topo como uma líder no trabalho de acabar com o preconceito com os problemas de saúde mental. “Não quero que nenhum outro atleta olímpico sofra o horror que eu e outras centenas suportamos e continuamos suportando até hoje”, afirmou.
O fato relatado na notícia chama a atenção acerca da necessidade de reflexão sobre a relação entre o esporte e
(A) o desempenho atlético internacional.
(B) a dimensão emocional dos atletas.
(C) os comitês olímpicos nacionais.
(D) as instituições de inteligência.
(E) as federações esportivas.
Resolução
A história de Simone Biles sobre o abuso sexual e os problemas de saúde mental provocou a necessidade de reflexão sobre a dimensão emocional dos atletas.
Alternativa: B

47) (ENEM - 1023) O acesso às Práticas Corporais/Atividades Físicas (PC/AF) é desigual no Brasil, à semelhança de outros indicadores sociais e de saúde. Em geral, PC/AF prazerosas, diversificadas, mais afeitas ao período de lazer estão concentradas nas populações mais abastadas. As atividades físicas de deslocamento, trajetos a pé ou de bicicleta para estudar ou trabalhar, por exemplo, são mais frequentes na classe social menos favorecida. Aqui, há uma relação inversa e perversa entre variáveis socioeconômicas de acesso às PC/AF. As maiores prevalências de inatividade física foram em mulheres, pessoas com 60 anos ou mais, negros, pessoas com autoavaliação de saúde ruim ou muito ruim, com renda familiar de até quatro salários mínimos por pessoa, pessoas que desconhecem programas públicos de PC/AF e residentes em áreas sem locais públicos para a prática.
O fator central que impacta a realização de práticas corporais/atividades físicas no tempo de lazer no Brasil é a
(A) diferença entre homens e mulheres.
(B) inexistência de políticas públicas.
(C) diversidade de faixa etária.
(D) variação de condição étnica.
(E) desigualdade entre classes sociais.
Resolução
O texto trata da dificuldade de pessoas com baixa renda familiar terem acesso a práticas corporais e atividades físicas.
Alternativa: E

48) (ENEM - 1023) Mestre e companheiro, disse eu que nos íamos despedir. Mas disse mal. A morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima. Um dia supuseste “morta e separada” a consorte dos teus sonhos e das tuas agonias, que te soubera “pôr um mundo inteiro no recanto” do teu ninho; e, todavia, nunca ela te
esteve mais presente, no íntimo de ti mesmo e na expressão do teu canto, no fundo do teu ser e na face de tuas ações. Esses catorze versos inimitáveis, em que o enlevo dos teus discípulos resume o valor de toda uma literatura, eram a aliança de ouro do teu segundo noivado, um anel de outras núpcias, para a vida nova do teu
renascimento e da tua glorificação, com a sócia sem nódoa dos teus anos de mocidade e madureza, da florescência e frutificação de tua alma. Para os eleitos do mundo das ideias a miséria está na decadência, e não na morte. A nobreza de uma nos preserva das ruínas da outra. Quando eles atravessavam essa passagem do invisível, que os conduz à região da verdade sem mescla, então é que entramos a sentir o começo do seu reino, o reino dos mortos sobre os vivos.
Esse é um trecho do discurso de Rui Barbosa na Academia Brasileira de Letras em homenagem a Machado de
Assis por ocasião de sua morte. Uma das características desse discurso de homenagem é a presença de
(A) metáforas relacionadas à trajetória pessoal e criadora do homenageado.
(B) recursos fonológicos empregados para a valorização do ritmo do texto.
(C) frases curtas e diretas no relato da vida e da morte do homenageado.
(D) contraposição de ideias presentes na obra do homenageado.
(E) seleção vocabular representativa do sentimento de nostalgia.
Resolução
Esse discurso proferido, na ocasião da morte de Machado de Assis, contém metáforas relativas ao harmonioso relacionamento entre Machado de Assis e sua esposa, Carolina, e entre esse casamento feliz e a escrita machadiana, como se nota na passagem: “Esses catorze versos inimitáveis, em que o elevo dos teus discípulos resume o valor de toda uma literatura, eram a aliança de ouro do teu segundo noivado, um anel de outras núpcias, para a vida nova do teu renascimento e de tua glorificação, com a sócia sem nódoa dos teus anos de mocidade e madureza, da flores ciência e frutificação de tua alma”.
Alternativa: A

49) (ENEM - 1023)
Essa campanha publicitária do Ministério da Saúde visa
(A) divulgar um conjunto de benefícios proporcionados pela amamentação.
(B) apresentar tratamentos para infecções respiratórias em bebês.
(C) defender o direito das mulheres de amamentar em público.
(D) orientar sobre os exercícios para uma boa amamentação.
(E) informar sobre o aumento de anticorpos nas mães.
Resolução
Ao apresentar respostas para a pergunta “Por que é tão importante amamentar?”, a campanha publicitária elenca benefícios que a amamentação pode trazer para a saúde dos bebês.
Alternativa: A

50) (ENEM - 1023)
Carta aberta à população brasileira
     Prezados Cidadãos e Cidadãs,
     O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Infelizmente, nosso país ainda não está
preparado para atender às demandas dessa população.
     Este é o retrato da saúde pública no Brasil, que, apesar dos indiscutíveis avanços, apresenta um cenário de
deficiências e falta de integração em todos os níveis de atenção à saúde: primária (atendimento deficiente nas unidades de saúde da atenção básica), secundária (carência de centros de referência com atendimento por especialistas) e terciária (atendimento hospitalar com abordagem ao idoso centrada na doença), ou seja, não há, na prática, uma rede de atenção à saúde do idoso.
     Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) vem a público manifestar suas preocupações com o presente e o futuro dos idosos no Brasil. É preciso garantir a saúde como direito universal.
     Esperamos que tanto nossos atuais quanto os futuros governantes e legisladores reflitam sobre a necessidade de investir na saúde e na qualidade de vida associada ao envelhecimento.
     Dignidade à saúde do idoso!
     Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2014.
O objetivo desse texto é
(A) sensibilizar o idoso a respeito dos cuidados com a saúde.
(B) alertar os governantes sobre os cuidados requeridos pelo idoso.
(C) divulgar o trabalho da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
(D) informar o setor público sobre o retrocesso da legislação destinada à população idosa.
(E) chamar a atenção da população sobre a qualidade dos serviços de saúde pública para o idoso.
Resolução
O texto apresenta um cenário “de deficiências e falta de integração em todos os níveis de atenção à saúde” do idoso. O objetivo do texto, portanto, é alertar a população acerca desse quadro deficitário.
Alternativa: E

INSTRUÇÕES PARA A REDAÇÃO
1. O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.2. O texto definitivo deve ser escrito à tinta preta, na folha própria, em até 30 (trinta) linhas.
2. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o númerode linhas copiadas desconsiderado para a contagem de linhas.
4. Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
4.1. tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “texto insuficiente”;
4.2. fugir ao tema ou não atender ao tipo dissertativo argumentativo;
4.3. apresentar parte do texto deliberada mente desconectada do tema proposto;
4.4. apresentar nome, assinatura, rubrica ou outras formas de identificação no espaço destinado ao texto.

 
TEXTO I

     O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade
O trabalho de cuidado é essencial para nossas sociedades e para a economia. Ele inclui o trabalho de cuidar de crianças, idosos e pessoas com doenças e deficiências físicas e mentais, bem como o trabalho doméstico diário que inclui cozinhar, limpar, lavar, consertar coisas e buscar água e lenha. Se ninguém investisse tempo, esforços e recursos nessas tarefas diárias essenciais comunidades, locais de trabalho e economias inteiras ficariam estagnados. Em todo o mundo, o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago é desproporcionalmente assumido por mulheres e meninas em situação de pobreza, especialmente por aquelas que pertencem a grupos que, além da discriminação de gênero, sofrem preconceito em decorrência de sua raça, etnia, nacionalidade e sexualidade. As mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado e compõem dois terços da força de trabalho envolvida em atividades de cuidado remuneradas.

TEXTO II
Média de horas dedicadas pelas pessoas de 14 anos ou mais de idade aos afazeres
domésticos e/ou às tarefas de  cuidado de pessoas, por sexo
TEXTO III
     A sociedade brasileira tem passado por inúmeras transformações sociais ao longo das últimas décadas. Entre elas, as percepções sociais a respeito dos valores e das convenções de gênero e a forma como mulheres têm se inserido na sociedade. Algumas permanências, porém, chamam a atenção, como a delegação quase que exclusiva às famílias — e, nestas, às mulheres – de atividades relacionadas à reprodução da vida e da sociedade, usualmente nominadas trabalho de cuidado.

TEXTO IV
PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa
de seu ponto de vista.
Comentário à proposta de Redação
     “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”: este o tema proposto, a ser desenvolvido numa dissertação argumentativa, na qual o candidato deveria defender o próprio ponto de vista sobre a questão apresentada.
     A exemplo de provas anteriores, o candidato contou com quatro textos motivadores, que deveriam ser considerados como ponto de partida para sua produção. O primeiro texto – Documento Informativo – Tempo de Cuidar –, reconhece a importância do trabalho de cuidado, tanto de pessoas em situação de vulnerabilidade quanto de ambientes domésticos e comunidades que são mantidos limpos, organizados e abastecidos graças a mulheres e meninas que, mesmo vitimadas por várias formas de carência e discriminação, respondem pela maior parte dos trabalhos de cuidado não pagos, além de comporem boa parte de atividades mal remuneradas. Esse fenômeno, segundo o texto, não se limita ao Brasil: antes, é observado no mundo todo, refletindo uma
desigualdade que, embora seja histórica, sequer é percebida. O texto dois expõe os resultados de levantamento, feito pelo IBGE em 2019, que apontava a média de horas semanais trabalhadas por pessoas do sexo masculino e do feminino: respectivamente, 11,0 e 21,4 horas. Já o terceiro texto, embora registram avanços no que diz respeito à inserção das mulheres em espaços tradicionalmente reservados aos homens, ressaltam atribuições exclusivamente femininas, entre as quais a reprodução da vida e os cuidados inerentes à maternidade. O último texto reproduz a capa de uma edição da Revista Fapesp, trazendo os resultados de uma pesquisa sobre os novos desafios do cuidado, como a demanda, em vários países, por profissionais especializados em oferecer assistência a um número cada vez maior de pessoas que apresentam dificuldade de se cuidar por conta própria, diferentemente do cenário brasileiro, em que cabe às famílias a tarefa de cuidar tanto dos filhos quanto dos pais em idade avançada.
     Após considerar as ideias e informações contidas nos textos motivadores, o candidato deveria proceder à própria análise de uma desigualdade de gênero que remonta a muitos séculos, algo que poderia ser comprovado pela diversidade de tarefas tradicionalmente exercidas pelas mulheres, muitas das quais envolvendo alguma forma de cuidado que, longe de se restringir aos filhos, alcança pais idosos, pessoas doentes ou com deficiências físicas e mentais – carentes de atenção, de alimento – entre tantas outras necessidades. Cuidados com a limpeza e conservação da própria casa, exercidos muitas vezes sob condições as mais precárias, também seriam apropriados para demonstrar a onipresença das mulheres, cuja ausência certamente geraria situações absolutamente caóticas. Seria recomendável ainda destacar, como parte dos atributos femininos, a capacidade de doação, de renúncia aos próprios interesses – até mesmo de sacrifícios – observada em mulheres que, mesmo tendo seu trabalho desvalorizado, continuam chefiando suas famílias, respondendo pelo sustento da casa e cumprindo dupla ou tripla jornada.
     Como proposta de intervenção, o candidato poderia sugerir uma ação liderada pelo Congresso, criando leis voltadas à igualdade de gênero, convocando as escolas a contribuírem, por meio da educação, com o princípio da igualdade entre meninos e meninas, a fim de que, num futuro próximo, a invisibilidade a que têm sido relegadas as mulheres não tenha mais espaço na sociedade contemporânea.
 
Ciências Humanas
E suas Tecnologias

51) (ENEM - 1023)
Fotografia da avó bordada
A definição de Sertão descrita no bordado associa esse recorte espacial a
(A) percursos e roteiros turísticos.
(B) trajetos e movimentos holísticos.
(C) vivências e itinerários socioafetivos.
(D) fronteiras e demarcações territoriais.
(E) profissões e interesses econômicos.
Resolução
A definição de sertão no bordado mostra as vivências da neta ao lembrar com carinho as visitas à casa da avó no interior.
Alternativa: C

52) (ENEM - 1023)
Felizes tempos eram esses! As moças iam à missa de madrugada. De dia ninguém as via e se alguma, em dia de festa, queria passear com a avô ou a tia, havia de ir de cadeirinhas. Bem razão têm os nossos velhos de chorar por esses tempos, em que as filhas não sabiam escrever, e por isso não mandavam nem recebiam bilhetinhos.
Na perspectiva do autor, as tradições e os costumes sociofamiliares sofreram alterações, no século XIX, decorrentes de quais fatores?
(A) Hábitos de leitura e mobilidade regional.
(B) Circulação de impressos e trânsito religioso.
(C) Valorização da língua e imigração estrangeira.
(D) Práticas de letramento e transformação cultural.
(E) Flexibilização do ensino e reformismo pedagógico.
Resolução
O letramento feminino no século XIX, associado ao gradual acesso à educação, desempenhou um importante papel de transformação social perceptível no envolvimento de mulheres em atividades literárias e intelectuais. Notadamente, foram produzidas modificações nos papéis tradicionalmente a elas atribuídos nos âmbitos familiar e político, modificando as relações de sociabilidade.
Alternativa: D
 
53) (ENEM - 1023) No Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio. De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado.
Assim, as águas, as sementes, os minerais, as terras (bens comuns) tornam-se propriedade privada. Além do mais, há outros fatores negativos, como a mecanização pesada, a “pragatização” dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa.
Os elementos descritos no texto, a respeito da territorialização da produção, demonstram que há um
(A) cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida.
(B) descaso aos latifundiários, impactando a plantação de alimentos para a exportação.
(C) desprezo ao assalariado, afetando o engajamento dos sindicatos para o trabalhador.
(D) desrespeito aos governantes, comprometendo a criação de empregos para o lavrador
(E) assédio ao empresariado, dificultando o investimento de maquinários para a produção.
Resolução
O texto aborda a expansão do agronegócio em direção ao Cerrado que amplia a agricultura comercial por meio da modernização da produção. Por outro lado, a atividade camponesa é reduzida, afetando sua subsistência e sua condição de vida.
Alternativa: A

54) (ENEM - 1023)
TEXTO I
Com uma população de 25 milhões de habitantes (cerca de 60% de minorias muçulmanas, principalmente da etnia Uigur), Xinjiang é uma região estratégica para a China. Faz fronteira com oito países, é uma artéria crucial do megaprojeto de infraestrutura chinês Cinturão e Rota e tem as maiores reservas nacionais de carvão e gás natural.

TEXTO II

Dentre as províncias da Região Oeste, Xinjiang se destaca ao receber mais de 1,7 milhão de migrantes entre 2000 e 2010. O principal motivo desse fluxo migratório é que o governo fornece subsídios à população visando aumentar a proporção de chineses da etnia Han em relação à população local de etnias turca e muçulmana.
A política demográfica para a província mencionada nos textos é parte da seguinte ação estratégica do governo
chinês:
(A) Promover a ocupação rural.
(B) Favorecer a liberdade religiosa.
(C) Descentralizar a gestão pública.
(D) Incentivar a pluralidade cultural.
(E) Assegurar a integridade territorial.
Resolução
Em relação ao extenso território que a China apresenta, o governo central chinês teme que, nas áreas distantes e fronteiriças, ocupadas por grupos étnicos diferentes da maioria han, ocorram movimentos separatistas, como, por exemplo, no caso da região do Xinjiang, onde predomina a etnia uigur.
Para evitar tal situação, o governo chinês incentiva o deslocamento de grupos migrantes han em direção à região para “diluir” uma suposta homogeneidade étnica, assegurando, assim, a integridade territorial.
Alternativa: E

55) (ENEM - 1023) Superar a história da escravidão como principal marca da trajetória do negro no país tem sido uma tônica daqueles que se dedicam a pesquisar as heranças de origem afro à cultura brasileira. A esse esforço de reconstrução da própria história do país, alia-se agora a criação da plataforma digital Ancestralidades. “A história do negro no Brasil vai continuar sendo contada, e cada passo que a gente dá para trás é um passo que a gente avança”, diz Márcio Black, idealizador da plataforma, sobre o estudo de figuras ainda encobertas pela perspectiva histórica imposta pelos colonizadores da América.
Em relação ao conhecimento ‘sobre a formação cultural brasileira, iniciativas como a descrita no texto favorecem o(a)
(A) recuperação do tradicionalismo.
(B) estímulo ao antropocentrismo.
(C) reforço do etnocentrismo.
(D) resgate do teocentrismo.
(E) crítica ao eurocentrismo.
Resolução
Os estudos acerca da formação cultural do Brasil têm valorizado a desconstrução do eurocentrismo, incluindo a importância da luta e da resistência dos escravizados. Nesse sentido, o excerto estabelece que tais análises, “ainda encobertas pela perspectiva histórica imposta pelos colonizadores da América”, são imprescindíveis no avanço das pesquisas.
Alternativa: E

56) (ENEM - 1023) Escrito durante a Primeira Guerra Mundial, o seguinte trecho faz parte da carta enviada pelo secretário do exterior britânico, Sir Arthur James Balfour, ao banqueiro Lord Rotschild, presidente da Liga Sionista, em 2 de novembro de 1917, a carta ficou conhecida como Declaração Balfour:
“O governo de Sua Majestade vê com aprovação o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e fará todos os esforços para facilitar tal objetivo. Nada será feito que possa prejudicar os diretos civis e religiosos das comunidades não judaicas na Palestina.”
A análise do resultado do processo em questão revela que o governo inglês foi incapaz de garantir seu objetivo de
(A) promover o bem-estar social.
(B) negociar o apoio muçulmano.
(C) mediar os conflitos territoriais.
(D) estimular a cooperação regional.
(E) combater os governos autocráticos.
Resolução
Embora explícita na Declaração Balfour, o governo inglês não foi exitoso em trazer o apoio da comunidade muçulmana no processo de formação de um lar nacional para os judeus, mas, sobretudo, na mediação dos conflitos entre as diversas comunidades que coabitavam a região.
Alternativa: C

57) (ENEM - 1023)
TEXTO 1
Como presença consciente no mundo não posso escapar á responsabilidade ética no meu mover-me no mundo. Se sou puro produto da determinação genética ou cultural ou de classe, sou irresponsável pelo que faço no meu moverme no mundo e, se careço de responsabilidade, não posso falar em ética.

TEXTO II

Paulo Freire construiu uma pedagogia da esperança. Na
sua concepção, a história não é algo pronto e acabado. As
estruturas de opressão e as desigualdades, apesar de serem
naturalizadas, são sócio e historicamente construídas. Daí
a importância de os educandos tomarem consciência da
sua realidade para, assim, transformá-la.
Com base no conceito de ética pedagógica presente nos textos, os educandos tornam-se responsáveis pela
(A) participação sociopolítica.
(B) definição estético-cultural.
(C) competição econômica local.
(D) manutenção do sistema escolar.
(E) capacitação de mobilidade individual.
Resolução
Ambos os textos abordam a ideia da ética pedagógica como responsabilidade dos sujeitos para a transformação da realidade por meio da participação sociopolítica.
Alternativa: A

58) (ENEM - 1023) A Cordilheira do Himalaia tem mais de 50 milhões de anos, sendo classificada como a maior cordilheira do planeta. Originário da língua sânscrito, comum na região, seu nome quer dizer “morada da neve”. Ê possível encontrar nessa cordilheira as quinze maiores montanhas do mundo. Ao todo, existem mais de cem picos, que contam com altitudes bem maiores que 7000 m. O Everest, considerado o ponto mais alto da Terra, tem nada menos que 8 848 m de altitude, e continua crescendo, aproximadamente, 0,8 mm a cada ano.
Qual dinâmica natural é responsável pelo fenômeno apresentado?
(A) Derrame de lava vulcânica.
(B) Encontro de placas tectônicas.
(C) Ação do intemperismo químico.
(D) Sedimentação de erosão eólica,
(E) Derretimento de geleiras glaciais.
Resolução
A Cordilheira do Himalaia é um dobramento moderno, sua formação data do período Terciário, da Era Cenozoica, resultado do movimento convergente das placas tectônicas de Decã e Euroasiática.
Alternativa: B

59) (ENEM - 1023) Eu poderia concluir que a raiva é um pensamento, que estar com raiva é pensar que alguém é detestável, e que esse pensamento, como todos os outros — assim como Descartes o mostrou —, não poderia residir em nenhum fragmento de matéria. A raiva seria, portanto, espírito. Porém, quando me volto para minha própria experiência da raiva, devo confessar que ela não estava fora do meu corpo, mas inexplicavelmente nele.
No que se refere ao problema do corpo, a filosofia cartesiana apresenta-se como contraponto ao entendimento expresso no texto por
(A) apresentar uma visão dualista.
(B) confirmar uma tese naturalista.
(C) demonstrar uma premissa realista.
(D) sustentar um argumento idealista.
(E) defender uma posição intencionalista.
Resolução
O fenomenólogo Merleau-Ponty, no texto, busca mostrar como a raiva é uma experiência simultaneamente do espírito e do corpo. Assim, ele transcende a dualidade cartesiana segundo a qual o mundo revela duas realidades: a coisa pensante e a matéria.
Alternativa: A

60) (ENEM - 1023) A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado para se pôr de novo em condições de enfrentá-lo. Mas, ao mesmo tempo, a mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoa em seu lazer e sobre a sua felicidade, ela determina tão profundamente a fabricação das mercadorias destinadas à diversão que essa pessoa não pode mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho.
No texto, o tempo livre é concebido como
(A) consumo de produtos culturais e elaborados no mesmo sistema produtivo do capitalismo.
(B) forma de realizar as diversas potencialidades da natureza humana.
(C) alternativa para equilibrar tensões psicológicas do dia a dia.
(D) promoção da satisfação de necessidades artificiais.
(E) mecanismo de organização do ócio e do prazer.
Resolução
A lógica da produção industrial engloba tanto os momentos de produtividade quanto os de “ócio” (como é sugerido pelo texto de Adorno), levando à formação de hábitos culturais a partir da lógica capitalista.
Alternativa: A

61) (ENEM - 1023)
A charge ilustra um anseio presente na sociedade contemporânea, que se caracteriza pela
(A) situação de revolta individual.
(B) satisfação de desejos pessoais.
(C) participação em ações decisórias.
(D) permanência em passividade social.
(E) conivência em interesses partidários.
Resolução
Os movimentos contemporâneos mostram um amplo desejo e luta por ações de empoderamento político, seja nas suas manifestações, seja na vigilância da administração pública, como forma de implementar ações decisórias.
Alternativa: C
 
62) (ENEM - 1023) Quem se mete pelo caminho do pedido de perdão deve estar pronto a escutar uma palavra de recusa. Entrar na atmosfera do perdão é aceitar medir-se com a possibilidade sempre aberta do imperdoável. Perdão pedido não é perdão a que se tem direito [devido]. É com o preço destas reservas que a grandeza do perdão se manifesta.
A reflexão sobre o perdão apresentada no texto encontra fundamento na(s)
(A) rejeição particular amparada pelo desejo de poder.
(B) decisão subjetiva determinada pela vontade divina.
(C) liberdade mitigada pela predestinação do espírito.
(D) escolhas humanas definidas pelo conhecimento empírico.
(E) relações interpessoais medidas pela autonomia dos indivíduos.
Resolução
O tema perdão, retratado no excerto de Paul Ricoeur, revela o amplo mundo das escolhas pessoais, pautado na manifestação de quem pede o perdão (e cometeu a falha), e naquele que recebe o pedido (podendo recusá-lo).
Alternativa: E

63) (ENEM - 1023) A Cavalgada de Sant’Ana é uma expressão da devoção dos vaqueiros à padroeira de Caicó (RN). Nas décadas de 1950 a 1970, esse evento, então denominado Cavalaria, era celebrado pelas pessoas que residiam na zona rural do município de Caicó. Essas pessoas usavam os animais (jegues, mulas e cavalos) como único meio de transporte, sobretudo para se dirigirem à cidade nos dias de feiras, trazendo seus produtos para comercializarem. Estando em Caicó no período da Festa de Sant’Ana, esses agricultores se organizavam em cavalgada até o pátio da Catedral de Sant’Ana para louvar a santa e receber bênção para seus animais. Por volta da década de 1970, com a chegada do automóvel à zona rural do município, essa expressão cultural foi extinta. O meio de transporte utilizando os animais passou a ser substituído por carros, sobretudo caminhonetes e caminhões, que transportavam os camponeses para a cidade em dias de feiras e festas.
Desde 2002, um grupo de caicoenses retomou essa expressão cultural e, em conjunto com a associação dos vaqueiros, realiza no primeiro domingo da Festa a Cavalgada de Sant’Ana. O evento, além de contar com a
participação dos cavaleiros que residem nas zonas rurais, atrai também pessoas que residem em Caicó, cidades vizinhas e amantes das vaquejadas.
As mudanças culturais mencionadas no texto caracterizam-se pela presença de
(A) elementos tradicionais e modernos em torno de uma crença religiosa.
(B) argumentos teológicos e históricos em consequência de uma ordem papal.
(C) fundamentos estéticos e etnográficos em função de uma cerimônia clerical.
(D) práticas corporais e esportivas em decorrência de uma imposição eclesiástica.
(E) discursos filosóficos e antropológicos em resultado de uma determinação paroquial.
Resolução
A festa da Cavalgada de Sant´Ana de Caicó (RN) é considerada patrimônio cultural imaterial. Celebrada há quase 260 anos no sertão potiguar, valoriza a tradição religiosa e a importância dos vaqueiros. A substituição da montaria por novos meios de transporte, motorizados, quase extinguiu o evento na década de 1970. A partir de 2002, devotos resgataram a procissão reafirmando a importância histórica do modo de vida dos sertanejos, mesmo diante da incorporação de elementos modernos.
Alternativa: A

64) (ENEM - 1023) Do século XVI em diante, pelo menos nas classes mais altas, o garfo passou a ser usado como utensílio para comer, chegando através da Itália primeiramente à França e, em seguida, à Inglaterra e à Alemanha, depois de ter servido, durante algum tempo, apenas para retirar alimentos sólidos da travessa. Henrique III introduziu-o na França, trazendo-o provavelmente de Veneza. Seus cortesãos não foram pouco ridicularizados por essa maneira ‘afetada” de comer e, no princípio, não eram muito hábeis no uso do utensílio: pelo menos se dizia que metade da comida caía do garfo no caminho do prato à boca. Em data tão recente como o século XVII, o garfo era ainda bascamente artigo de luxo, geralmente feito de prata ou ouro.
O processo social relatado indica a formação de uma etiqueta que tem como princípio a
(A) distinção das classes sociais.
(B) valorização de hábitos de higiene.
(C) exaltação da cultura mediterrânea.
(D) consagração de tradições medievais.
(E) disseminação de produtos manufaturados.
Resolução
O texto de Norbert Elias refere-se às etiquetas à mesa e ao uso dos utensílios de alimentação que foram adotados nas cortes dos séculos XVI e XVII. Nota-se também que os utensílios eram artigos de luxo, feitos de prata ou ouro, nacessíveis às classes populares.
Alternativa: A

65) (ENEM - 1023) Negar o pedido por dinheiro indispensável para necessidades pessoais ou comprar bens usando o nome da pessoa sem o consentimento dela. Ameaçar o corte de recursos dependendo de atitudes pessoais, esconder documentos ou trocar senhas do banco sem avisar. Ou, ainda, proibir a pessoa de trabalhar ou destruir seus pertences. As histórias são comuns, mas às vezes não são reconhecidas como abuso. Mas é uma das cinco formas de conduta contra a mulher previstas na Lei Maria da Penha.
O texto apresenta tipos de conduta sujeitos a punição, conforme previsto na Lei Maria da Penha, porque consistem em formas de
(A) ação difamatória.
(B) desvio comportamental.
(C) expressão preconceituosa.
(D) violência patrimonial.
(E) desentendimento matrimonial.
Resolução
O texto aborda formas de conduta contra a mulher (tais como proibir a pessoa de trabalhar e destruir seus pertences) e que estão previstas na Lei Maria da Penha, de 2006. Todas essas condutas fazem parte da chamada “violência patrimonial”.
Alternativa: D

66) (ENEM - 1023) Por trás da “mágica” do Google Assistant de sua capacidade de interpretar 26 idiomas está uma enorme equipe de linguistas distribuídos globalmente, trabalhando como subcontratados, que devem rotular tediosamente os dados de treinamento para que funcione.
Eles ganham baixos salários e são rotineiramente forçados a trabalhar horas extras não remuneradas. A inteligência artificial não funciona com um pozinho mágico. Ela funciona por meio de trabalhadores que treinam algoritmos incansavelmente até que eles automatizem seus próprios trabalhos.
A inteligência Artificial (IA) da economia freelancer está vindo atrás de você.
O texto critica a mudança tecnológica em razão da seguinte consequência:
(A) Diversificação da função.
(B) Mobilidade da população.
(C) Autonomia do empregado.
(D) Concentração da produção.
(E) Invisibilidade do profissional.
Resolução
A crítica apresentada no texto reside no fato de que por trás da indústria da Inteligência Artificial, há o trabalho invisível de humanos em condições isoladas e geralmente precárias.
Alternativa: E

67) (ENEM - 1023) Enormes alto-falantes sul-coreanos instalados na fronteira com o Norte costumavam transmitir desde canções em estilo K-pop (como é chamado o pop sul-co - reano) até boletins climáticos e noticiário crítico ao vizinho comunista. O Norte costuma praticar atividade semelhante, transmitindo por seus alto-falantes discursos críticos a Seul e aliados. Durante os anos 1980, o governo sul-coreano construiu um mastro de 97 metros de altura para hastear sua bandeira no povoado de Daesong-dong, na fronteira com o Norte. O Norte respondeu com a construção de um mastro ainda mais alto (160 m) na cidade fronteiriça de Gijung-dong. “Essas demonstrações são uma válvula de escape competitiva e importante entre os dois lados, fora de um possível conflito militar’, diz o analista Ankit Panda.
Os atos de competição citados têm suas origens históricas vinculadas a um contexto de
(A) domínio cultural-identitário de atores sociais.
(B) disputas étnico-raciais de povos tradicionais.
(C) divergências político-ideológicas de agentes estatais.
(D) imposição econômico-financeira de empresas privadas.
(E) protestos ecológico-sustentáveis de entidades ambientais.
Resolução
As provocações entre os dois países refletem uma disputa de natureza política-ideológica que se estende desde o período da Guerra Fria, o que mantém a tensão entre os dois Estados, nas quais está dividida a nação coreana.
Alternativa: C

68) (ENEM - 1023) Seda, madeiras aromáticas e têxteis, obras de arte, lã, cristais e muitas, muitas peças de porcelana chegaram ao Brasil ao longo dos séculos XVII e XVIII. A opulência proporcionada pelo ouro fez com que esses itens fossem ainda mais presentes em cidades mineiras como Ouro Preto, Mariana e Sabará. Esses objetos inspiraram a criação das chinesices, termo que designa um tipo de arte que evoca motivos chineses, presentes em várias igrejas barrocas de Minas Gerais. No Brasil, é bem provável que a inspiração para as pinturas nas igrejas barrocas com pássaros, elefantes, tigres, mandarins e pagodes tenha sido tirada de gravuras, tecidos, móveis e, principalmente, das porcelanas chinesas que circulavam livremente em uma sociedade enriquecida pelo comércio do ouro e pedras preciosas.
O desenvolvimento do processo artístico descrito no texto foi possível pelo(a)
(A) representação arquitetônica.
(B) intercâmbio transcontinental.
(C) dependência econômica.
(D) intervenção estatal.
(E) padrão estético
Resolução
O intercâmbio entre diversas civilizações decorrente da Expansão Marítima europeia, ao longo da época moderna, absorveu elementos artísticos da longínqua Ásia e de sua riquíssima representação iconográfica.
Desse modo ficaram estabelecidas interações econômicas e culturais exemplificadas no porcelanato chinês e nas igrejas barrocas coloniais.
Alternativa: B

69) (ENEM - 1023)
Txai Suruí, liderança da Juventude Indígena,
profere seu discurso na abertura da COP-26
     “O clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo e nossas plantações não florescem como no passado. A Terra está falando: ela nos diz que não temos mais tempo.’
O discurso da líder indígena explicita um problema global relacionado ao(à)
(A) manejo tradicional.
(B) reciclagem residual.
(C) consumo consciente.
(D) exploração predatória.
(E) reaproveitamento energético.
Resolução
Os chamados “povos das florestas”, entre eles, os grupos indígenas que habitam a Amazônia, são mais sensíveis às alterações provocadas pela ocupação capitalista desordenada dessa importante região sulamericana. Suas denúncias devem ser observadas com atenção.
Alternativa: D

70) (ENEM - 1023)
     Nas reportagens publicadas sobre a inauguração do Museu de Arte de São Paulo, em 1947, quando ele ainda ocupava um edificio na rua Sete de Abril, Lina Bo Bardi não foi mencionada nenhuma vez. A arquiteta era responsável pelo projeto do museu que mudaria para sempre a posição de São Paulo no circuito mundial das artes. Mas não houve nenhum registro disso. O louvor se concentrou em seu marido e parceiro profissional, o respeitado crítico de arte Pietro Maria Bardi. Passados 75 anos, a mulher então ignorada recebeu um Leão de Ouro póstumo, a maior homenagem da Bienal de Arquitetura de Veneza, e tem agora sua história contada em duas biografias de peso, que procuram destrinchar uma carreira marcada pela ousadia e pela contradição.
As transformações pelas quais passaram as sociedades ocidentais e que possibilitaram o reconhecimento recente do trabalho da arquiteta mencionada no texto foram resultado das mobilizações sociais pela
(A) equidade de gênero.
(B) liberdade de expressão.
(C) admissibilidade de voto.
(D) igualdade de oportunidade.
(E) reciprocidade de tratamento.
Resolução
A arquiteta responsável pelo projeto não recebeu reconhecimento em vida, o que ficou para o marido, por preconceito de gênero. Contudo, ela o recebeu posturamente como fruto das mobilizações sociais pela equidade.
Alternativa: A

71) (ENEM - 1023)
TEXTO I
Como é horrível ver um filho comer e perguntar: “Tem mais?” Esta palavra “tem mais” fica oscilando dentro do cerebro de uma mãe que olha as panela e não tem mais.

TEXTO II
A experiência de ver os filhos com fome na década de 1950, descrita por Carolina, é vivida no Brasil de 2021
por uma moradora de Petrolândia, em Pernambuco. “Eu trabalhava de ajudante de cabeleireira, mas a moça que tinha o salão fechou. Eu vinha me sustentando com o auxílio que tinha, mas agora eu não fui contemplada. Às vezes as pessoas me ajudam com alimentos para os meus filhos. De vez em quando, eu acho algum bico para fazer, mas é muito raro. Tem dias que não tenho nem o leite da minha bebê.”
Considerando a realidade brasileira, os textos se aproximam ao apresentarem uma reflexão sobre o(a)
(A) recorrência da miséria.
(B) planejamento da saúde.
(C) superação da escassez.
(D) constância da economia.
(E) romantização da carência.
Resolução
Ambos os textos retratam a realidade de insegurança alimentar no Brasil, tema que expressa a recorrência da miséria.
Alternativa: A

72) (ENEM - 1023) No sul da Bahia, desde o século XVIII, tem-se registros de um tipo de sistema agroflorestal. Até hoje, esse sistema é característica marcante da paisagem da região, conhecido como cabruca, que consiste no cultivo do cacau à sombra do dossel da floresta nativa. Esse sistema de cultivo do cacau (graças à tolerância da espécie à sombra) é considerado amigável para a vida silvestre, pois apresenta superioridade em termos de conservação da biodiversidade quando comparado com outras plantações tropicais (monoculturas de dendê, seringa ou café), agricultura ou pastagens.
A prática produtiva apresentada é um exemplo de
(A) difusão comercial de lavouras temporárias.
(B) utilização sustentável dos recursos naturais.
(C) ampliação tecnológica da pecuária intensiva.
(D) padronização alimentar dos povos tradicionais.
(E) modernização logística de plantios convencionais.
Resolução
O cultivo do cacau no sul da Bahia com a utilizaçãode sombreamento permitiu a manutenção da cobertura vegetal, a Mata Atlântica. Por outro lado, cultivos em monocultura, como o dendê e o café, além da pecuária, são atividades que desencadeiam o desmatamento e a perda de biodiversidade.
Alternativa: B

73) (ENEM - 1023) O masseiro, a mulher, e quatro filhos, dormindo numa tapera de quatro paredes de caixão, coberta de zinco. A água do mangue, na maré cheia, ia dentro de casa. Os maruins de noite encalombavam o corpo dos meninos. O mangue tinha ocasião que fedia, e os urubus faziam ponto por ali atrás dos petiscos. Perto da rua lavavam couro de boi, pele de bode para o curtume de um espanhol. Morria peixe envenenado e quando a maré secava os urubus enchiam o papo, ciscavam a lama, passeando banzeiros pelas biqueiras dos mocambos no Recife.
A aglomeração urbana representada no texto resulta em
(A) conservação do meio rural.
(B) crescimento da vegetação ciliar.
(C) interferência do espaço geográfico.
(D) equilíbrio do ambiente das cidades.
(E) controle da proliferação dos animais.
Resolução
O texto apresenta elementos como “tapera”, “Lavavam couro de boi”, “peixe envenenado”, que representam formas de ocupação do mangue e interferem na paisagem alterando o espaço geográfico.
Alternativa: C

74) (ENEM - 1023) Elas foram as pioneiras dos direitos das mulheres no Afeganistão. Defensoras ferrenhas da lei, buscaram justiça para os mais marginalizados. Mas, agora, mais de 220 juízas afegãs estão escondidas por medo de retaliação sob o regime do Talibã. Uma delas condenou centenas de homens por violência contra as mulheres, incluindo estupro, assassinato e tortura. Mas poucos dias depois que o Talibã assumiu o controle de sua cidade e milhares de criminosos condenados foram libertados da prisão, as ameaças de morte começaram. O país sempre foi considerado um dos lugares mais difíceis e perigosos do mundo para as mulheres. De acordo com estudos de organizações não governamentais, cerca de 87% das mulheres e meninas serão vítimas de abuso durante a vida.
O texto evidencia situação representativa de
(A) afronta às estruturas sociais.
(B) desprezo aos valores religiosos.
(C) transgressão às normas morais.
(D) desrespeito à dignidade humana.
(E) oposição aos princípios hierárquicos.
Resolução
O texto aborda a situação de ocupação do regime Talibã no Afeganistão o qual impõe forte repressão por meio da violência. Contrapondo-se a essa situação, juízas passaram a defender marginalizados devido ao desrespeito à dignidade humana.
Alternativa: D

75) (ENEM - 1023) o cemitério, a sociedade religiosa encarregada do funeral, aterrorizada, apressou a cerimônia de tal forma que a mãe de Herzog perdeu o momento em que o caixão do filho começou a ser coberto pela terra. Quatro jornalistas que estavam presos no DOI chegaram para assistir ao sepultamento. Um se afastara, chorando. Dizia: Eles matam, eles matam! Não pergunte nada. Não podemos dizer nada. Eles matam mesmo. Falava-se baixo. Ouviram-se dois curtos discursos. O primeiro, da atriz Ruth Escobar: Até quando vamos suportar tanta violência? Até quando vamos continuar enterrando nossos mortos em silêncio? No segundo, Audálio Dantas recitou o Navio negreiro, de Castro Alves: Senhor Deus dos desgraçados / Dizei-me Vós Senhor Deus / Se é mentira, se é verdade, / Tanto horror perante os céus.
O acontecimento descrito no texto, ocorrido em meados dos anos 1970, atesta a seguinte caracteristica do regime político-institucional vigente:
(A) Incorporação da estética popular para justificar o ideal de integração nacional.
(B) Afirmação da estratégia psicossocial para favorecer o objetivo de propaganda cívica.
(C) Institucionalização de mecanismos repressivos para eliminar os focos de resistência.
(D) Adoção de cerimoniais públicos para controlar as manifestações de grupos opositores.
(E) Estatização de meios de comunicação para selecionar a divulgação de atos governamentais.
Resolução
A morte do jornalista Vladimir Herzog (1975) nas dependências do DOI-Codi de São Paulo expôs a truculência do governo contra seus opositores. O diretor da TV Cultura, embora possuísse ligações com o PCB, não era um ativista envolvido em ações contrárias ao regime. A divulgação oficial da imagem de seu suposto suicídio deixou evidente o esforço em esconder as torturas e mortes praticadas pela repressão mesmo no momento em que se falava em distensão.
Alternativa: C

76) (ENEM - 1023) Alternativas logísticas estão servindo de instrumentos que ativam os mercados especuladores de terras nas diferentes regiões da Amazônia e constituem em indicadores utilizados por diferentes atores para defender ou denunciar o avanço da cultura da soja na região e, com ela, a retomada do desmatamento. É evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver também com a expansão da soja, porém atribuir a ela o fator principal parece não totalmente correto. Parto da compreensão central de que a lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas.
Na visão do autor, o problema central da situação descrita é desencadeado pela
(A) apropriação de áreas devolutas.
(B) sonegação de impostos federais.
(C) incorporação de exportação ilegal.
(D) desoneração de setores produtivos.
(E) flexibilização de legislação ambiental.
Resolução
Na ocupação de áreas devolutas na região amazônica é comum a ação ilegal de grileiros e madeireiros, primeiramente retirando parte da cobertura vegetal, o que favorece o avanço da pecuária. Posteriormente, a soja passa a ser produzida na localidade recémincorporada pela fronteira agropecuária.
Alternativa: A

77) (ENEM - 1023)
TEXTO I
Por hora, apenas os mais abastados poderão sonhar em viajar ao espaço, seja por um foguete ou por um avião híbrido, mas toda a população global poderá sentir os efeitos dessas viagens e avanços tecnológicos. Para uma aventura dessas, as empresas tiveram que criar novas tecnologias que podem, em algum momento, voltar para a sociedade. A câmera fotográfica, hoje comum no mundo, antes foi uma invenção para ser usada em telescópios, e o titânio, usado até na medicina, foi desenvolvido para a construção de foguetes.

 TEXTO II
Os textos apresentam perspectivas da nova corrida espacial que revelam, respectivamente:
(A) Dependência e progresso.
(B) Expectativa e desconfiança.
(C) Angústia e adaptação.
(D) Pioneirismo e retrocesso.
(E) Receio e civilidade.
Resolução
Enquanto o texto I revela grande expectativa em relação às inovações produzidas pela nova corrida espacial, o texto II revela a sua desconfiança ao relacionar as atuais viagens espaciais à anexação de novos territórios pelo grande capital.
Note-se que, no texto I da questão, a expressão “por hora” foi empregada equivocadamente no lugar da locução adverbial “por ora”.
Alternativa: B

78) (ENEM - 1023) Os séculos XV e XVI, quando se vão desmoronando as estruturas socioeconôrnicas da Idade Média perante os novos imperativos da Época moderna, constituem um momento-chave na história florestal de toda a Europa Ocidental. Abre-se, genericamente, um longo período de “crise florestal”, que se manifesta com acuidade nos países onde mais se desenvolvem as atividades industriais e comerciais. As necessidades em produtos lenhosos aumentam drasticamente com o crescimento do consumo nos mercados urbanos e nas regiões onde progridem a metalurgia e a construção naval, além da sua utilização na vida quotidiana de toda a população.
Qual acontecimento do período contribuiu diretamente para o agravamento da situação descrita?
(A) O processo de expansão marítima.
(B) A eclosão do renascimento cultural.
(C) A concretização da centralização política.
(D) O movimento de reformas religiosas.
(E) A manutenção do sistema feudal.
Resolução
No contexto da Expansão Marítima europeia, a partir do século XV, observa-se uma demanda crescente por
madeira necessária para a construção de armadas. As embarcações eram empregadas em atividades de transporte de pessoas e mercadorias, com o propósito de assegurar o controle sobre as áreas coloniais disputadas entre as potências navais. Esse processo trouxe enormes impactos de degradação ambiental destruindo florestas por toda Europa.
Alternativa: A

79) (ENEM - 1023) Tahuantinsuyu — nome do Império Inca em quéchua — era dividido em quatro partes ou suyus: Chinchaysuyu (noroeste do Peru e Equador), Antisuyu (parte amazônica do império), Collasuyu (atual Bolivia) e Condesuyu (costa do Oceano Pacífico) e tinha Cuzco, no atual Peru, como sua capital imperial. Oficialmente, todas as etnias dominadas pelos incas deveriam adotar a língua quéchua, adorar o Sapa Inca e o Sol e pagar taxas em forma de horas de trabalhos periódicos. No entanto, pode-se dizer que o Império Inca era como um mosaico cultural em que vários e diferentes grupos étnicos adoravam o Sapa Inca e o Sol mas, simultaneamente, continuavam a adorar seus deuses locais e também a falar em suas línguas nativas.
Ao comparar, no texto, a vertente da dominação territorial com os aspectos culturais, os incas tinham uma postura
(A) aceitável no que alude aos direitos humanos.
(B) admissível no que remete às crenças coloniais.
(C) tolerável no que se refere aos regimes tributários.
(D) flexível no que diz respeito aos costumes religiosos.
(E) compreensível no que concerne às normas laborais.
Resolução
No Império Inca, o culto ao Sapa Inca e ao deus Sol eram centrais no politeísmo desse povo. Contudo, havia considerável tolerância em relação às práticas religiosas regionais, uma estratégia para a manutenção da estabilidade e a unidade do império.
Essa ação contribuía para o controle do vasto território, assegurando a coesão interna e a cobrança de impostos.
Alternativa: D

80) (ENEM - 1023) A torcida do Fluminense inicia um movimento para mudar a letra de uma das músicas mais populares das arquibancadas tricolores. Grupos pedem a remoção do termo “mulambo imundo”, em uma provocação direta ao Flamengo. Mulambo é um termo que surgiu em Angola, na época da escravatura, e eles eram chamados de mulambos pelos senhores de engenho, os patrões das fazendas.
Qual mudança no comportamento social a proposta reportada no texto reflete?
(A) Rejeição de costumes elitistas.
(B) Repulsão de condutas misóginas.
(C) Condenação do preconceito racial.
(D) Criminalização de práticas homofóbicas
(E) Contestação do comportamento machista.
Resolução
O termo mulambo revela conotação fortemente preconceituosa remonta a história da escravidão no Brasil e a proposta de removê-lo resulta de uma alteração no entendimento e comportamento social que reflete justamente a condenação do preconceito racial
Alternativa: C

81) (ENEM - 1023)
Qual fator foi determinante para a mudança do indicador apresentado no gráfico?
(A) Flexibilização legal da prática de aborto.
(B) Envelhecimento da população brasileira.
(C) Crescimento dos casos de gravidez precoce.
(D) Participação feminina no mercado de trabalho.
(E) Diminuição dos benefícios na licença-maternidade.
Resolução
A questão aborda a fecundidade no Brasil no gráfico desde 1960 e estimando até o ano de 2050. Há um recorte de 1960 à 2020 onde ocorre uma redução drástica do número de filhos de 6,3 para 1,5 em um intervalo de 60 anos. O fator determinante para ocorrer essa diminuição é principalmente a participação feminina no mercado de trabalho, alocado no alternativa d.
Alternativa: D

82) (ENEM - 1023) Havia já muito tempo que a Europa desfrutava os benefícios da vacina e arrancava à morte milhares de inocentes, condenados a serem vítimas do terrível flagelo das bexigas, e o governo de Portugal nunca se lembrara de transmitir ao Brasil a mais útil das descobertas humanas, quando aliás nenhum país mais do que ele carecia deste salutar invento ou se atendesse às vantagens da população ou ao perdimento de imensas somas na mortandade contínua de escravos, que este flagelo devorava, O certo é que mais ocupado de seu ouro que de seus habitantes, Portugal, como em outros muitos casos, esperou que o Brasil por seu próprio impulso remediasse a este mal.
Escrito em 1828, o texto expressa a seguinte ideia de origem iluminista:
(A) As leis observáveis regem o mundo material.
(B) O monarca racional promove a sociedade justa.
(C) O direito natural justifica a liberdade dos homens.
(D) A produção da terra garante a riqueza das nações.
(E) A responsabilidade dos governantes assegura a saúde.
Resolução
O texto expressa a ideia iluminista apresentada na obra Tratado sobre o Governo Civil, de John Locke, de 1689. Nele, o autor enfatiza a responsabilidade do governante em assegurar os direitos naturais dos governados, dentre estes o direito à vida, garantido pelo acesso à vacinação. O excerto deixa claro a inépcia do monarca português no trato do combate à epidemia de varíola.
Alternativa: E

83) (ENEM - 1023) Os movimentos da agricultura urbana no Rio de Janeiro vêm crescendo nos últimos vinte anos, tanto por meio de reproduções de modelos de vida antigos, vinculados ao resgate dos próprios costumes, como — e cada vez mais — são revelados hábitos inventivos nos quais moradores urbanos de diferentes classes sociais, sem nenhuma referência anterior com o campo, passam a se dedicar a essas atividades. Ao possibilitar o acesso ao plantio e, consequentemente, à alimentação, permite-se uma nova relação com o que se come, reduzindo o percurso da cadeia produtiva e aproximando produtores de consumi - dores, pois ambos se confundem nas experiências de agricultura urbana.
Cultivando relações no arranjo local da Penha: a mobilização demulheres a partir das práticas de agricultura urbana na favela.
Cidades, Comunidades e Territórios, n. 42. jun 2021.
A prática agrícola destacada no texto apresenta como vantagem no espaço urbano a
(A) ocupação de lugares ociosos.
(B) densificação da área central.
(C) valorização do mercado externo.
(D) priorização de insumos químicos.
(E) mecanização de técnicas de cultivo.
Resolução
A questão aborda núcleos de agricultura urbana no Rio de Janeiro. Essa prática agrícola vem ganhando destaque pois aproveita terrenos e lugares ociosos em áreas urbanas, apresentando como grande vantagem econômica, com acesso ao plantio e consequente à alimentação.
Alternativa: A
84) (ENEM - 1023)
TEXTO I
Gerineldo dorme porque já está conformado com o seu mundo. Porque já sabe tudo o que lhe pode acontecer
após haver submetido todos os objetos que o rodeiam a um minucioso inventário de possibilidades. Seu apartamento, mais que um apartamento, é uma teoria de sorte e de azar. Melhor que ninguém, Gerineldo conhece o coeficiente da dilatação de suas janelas e mantém marcado no termômetro, com uma linha vermelha, o ponto em que se quebrarão os vidros, despedaçados em estilhaços de morte. Sabe que os arquitetos e os engenheiros já previram tudo, menos o que nunca já aconteceu.

TEXTO II
A situação é o sujeito inteiro (ele não é nada a não ser a sua situação) e é também a coisa inteira (nunca há mais nada senão as coisas). E o sujeito a elucidar as coisas pela sua própria superação, se assim quisermos; ou são as coisas a reenviar ao sujeito a imagem dele. É a total facticidade, a contingência absoluta do mundo, do meu nascimento, do meu lugar, do meu passado, dos meus redores — e é a minha liberdade sem limites que faz com que haja para mim uma facticidade.

A postura determinista adotada pelo personagem Gerineldo contrasta com a ideia existencialista contida no pensamento filosófico de Sartre porque
(A) evidencia a manifestação do inconsciente.
(B) nega a possibilidade de transcendência.
(C) contraria o conhecimento difuso.
(D) sustenta a fugacidade da vida.
(E) refuta a evolução biológica.
Resolução
O existencialista Sartre define a condição humana pela contingência e liberdade diante dela. O homem, diz o filósofo, é condenado a ser livre, o que torna capaz de transcender as condições dadas, negando, assim, qualquer perspectiva determinista diante da vida.
Alternativa: B

85) (ENEM - 1023) O Golpe Militar de 1964 foi implacável no combate ao que restava das Ligas Camponesas, generalizadas na década anterior. No entanto, em relação aos sindicatos sua atitude foi ambígua. Por meio de acordos com os Estados Unidos, foram concebidos centros sindicais e cursos de liderança com base em princípios conservadores e ministrados por membros da Igreja Católica.
Os sindicatos rurais foram tratados da forma descrita no texto porque o governo pretendia utilizá-los para
(A) controlar as tensões políticas.
(B) limitar a legislação trabalhista.
(C) divulgar o programa populista.
(D) regularizar a propriedade da terra.
(E) estimular a oferta de mão de obra.
Resolução
Ao combater e eliminar as Ligas Camponesas (associações lideradas por Francisco Julião na defesa da reforma agrária), o Regime Militar procurava errradicar as disputas fundiárias no Brasil. A proposta governamental dos sindicatos rurais serviria para despolitizar a luta pela terra.
Alternativa: A

86) (ENEM - 1023) A economia das ilegalidades se reestruturou com o desenvolvimento da sociedade capitalista. A ilegalidade dos bens foi separada da ilegalidade dos direitos. Divisão que corresponde a uma oposição de classes, pois, de um lado, a ilegalidade mais acessivel às classes populares será a dos bens — transferência violenta das propriedades; de outro, da burguesia, então, se reservará a ilegalidade dos direitos: a possibilidade de desviar seus próprios regulamentos e suas próprias leis e essa grande redistribuição das ilegalidades se traduzirá até por uma especialização dos circuitos judiciários, para as ilegalidades de bens — para o roubo — os tribunais ordinários e os castigos; para as ilegalidades de dreitos — fraudes, evasões fiscais, operações comercias irregulares — jurisdições espe ciais com transações acomodações, multas atenuadas etc.
O texto apresenta uma relação de cálculo político econômico que caracteriza o poder punitivo por meio da
(A) gestão das ilicitudes pelo sistema judicial.
(B) aplicação das sanções pelo modelo equânime.
(C) supressão dos crimes pela penalização severa.
(D) regulamentação dos privilégios pela justiça social.
(E) repartição de vantagens pela hierarquização cultural.
Resolução
Foulcalt define as ilicitudes por bases político-econô -micas, definidoras de mundos distintos no aspecto cultural. A gestão de tais atos é realizada pelo poder judicial, responsável na escola estrutudalista poraquele que “pune”.
Alternativa: A

87) (ENEM - 1023) Os vapores cruzavam os mares transportando pessoas, mercadorias e ideias, e ainda carregavam a mala postal, repleta de mensagens. Múltiplas histórias escritas atravessavam o oceano buscando por notícias de filhos e pais, irmãos, maridos e esposas, noivos e noivas. As missivas traziam boas e más novas, comunicavam alegremente nascimentos e casamentos, também doenças e mortes; enviavam declarações de amor e fidelidade, fotos de família; encaminhavam conselhos de velhos, pedidos de ajuda e de dinheiro; expediam cartas bancárias e de chamada. Essa literatura epistolar possibilitava a transmissão e reconstrução das tradições. Os deslocamentos tornaram-se um dos mais potentes produtores de escritura ao longo da história.
Conforme o texto, as correspondências trocadas entre imigrantes no Brasil com os seus países de procedência constituíam um dispositivo tecnológico que possibilitava o(a)
(A) disputa ideológica entre a comunidade de estrangeiros e a de nativos.
(B) circularidade cultural entre a sociedade de partida e a de acolhimento.
(C) controle doutrinário das narrativas do cotidiano de origem e de destino,
(D) fiscalização politica dos fluxos de populações do Novo e do Velho Mundo.
(E) monitoramento social dos grupos de trabalhadores da cidade e do campo.
Resolução
A troca de correspondências entre imigrantes no Brasil e familiares em seus países de origem, desempenhou um papel significativo de intercâmbio cultural. Permitiu, também, a preservação de certas tradições e do vínculo de afetividade, o que fomentava a reconstrução dessas identidades a partir da circulação de notícias.
Alternativa: B

88) (ENEM - 1023) Diversos são os fatores causadores da degradação do solo, atuando de forma direta ou indireta, mas quase sempre a grande maioria das terras degradadas inicia esse processo com o desmatamento, que pode ser seguido por diversas formas de ocupação desordenada, como: corte de taludes para a construção de casas, rodovias e ferro - vias, agricultura, com uso da queimada, vários tipos de mineração irrigação excessiva, crescimento desordenado das cidades, superpastoreio, uso do solo para diversos tipos de despejos industriais e domésticos, sem tratamento da área que recebe esses despejos; enfim, de uma forma ou de outra, os solos tornam-se degradados, sendo muitas vezes difícil, ou quase impossível, a sua recuperação.
A partir da ocupação desordenada exposta no texto, o que impede a recuperação do recurso natural destacado é a
(A) elevação da biomassa.
(B) redução da salinização.
(C) diminuição da fertilidade.
(D) ampliação da microfauna.
(E) decomposição do substrato.
Resolução
A intensa ocupação do solo por atividades antrópicas, tanto em áreas rurais ou urbanas, dificulta recuperação desse importante recurso natural, diminuindo sua fertilidade ao longo do tempo e possibilidade de aproveitamento.
Alternativa: C

89) (ENEM - 1023) A partir da década de 1930, começam a ser discutidos no Brasil os princípios de racionalização do trabalho. As preocupações com a cozinha e o trabalho doméstico foram introduzidas com a medicina sanitária e a oferta de gás e eletricidade para uso doméstico no inicio do século XX. A organização da cozinha visava atingir uma simplificação das tarefas, com a economia de movimentos e o barateamento dos equipamentos, a partir da produção em grande escala. A padronização e racionalização da habitação e seus componentes visava uma radical transformação da casa, em especial da cozinha e apoiava-se tanto no desenvolvimento de novos equipamentos quanto nos estudos de racionalização do trabalho doméstico.
A principal preocupação era o desenvolvimento de um novo tipo de habitação, que deveria induzir um novo comportamento social.
No contexto descrito, as mudanças mencionadas proporcionavam às mulheres o(a)
(A) controle do orçamento familiar.
(B) libertação das tradições religiosas.
(C) exercício da representatividade política.
(D) ampliação dos momentos de socialização.
(E) afastamento das atividades especializadas.
Resolução
O uso do fogão a gás, no contexto das inovações tecnológicas aludidas, resultante do desenvolvimento industrial com a produção em larga escala, modificaram a organização espacial interna das casas e contribuíram para o controle de epidemias (ao isolar as latrinas dos locais de cocção dos alimentos). Tal alteração, ao simplificar e agilizar as tarefas domésticas, executadas com maior rapidez, proporcionou às mulheres mais tempo para a socialização com os demais membros da família. No entanto, essa condição mantinha a sobrecarga do trabalho feminino no espaço doméstico e fora dele.
Alternativa: D

90) (ENEM - 1023) Produtores rurais europeus são antigos opositores de um grande acordo com o Mercosul. Na visão deles, existe um nítido risco de concorrência desleal, pois, na Europa, é preciso seguir regras mais rigidas de produção, o que encarece o processo. Assim, eles não conseguiriam competir com os preços, por exemplo, da carne brasileira e teriam seus negócios ameaçados. Por outro lado, o setor industrial europeu se mobiliza a favor do acordo, uma vez que as reduções de tarifas no comércio internacional dariam maior acesso ao mercado sul-americano. Um exemplo é o setor automotivo europeu, que prevê maior participação e concorrência nos países do Mercosul caso o acordo siga em frente.
No contexto do acordo citado, os dois grupos econômicos europeus defendem, respectivamente, a
(A) restrição dos fluxos migratórios e a maior atuação de sindicatos.
(B) ampliação das leis trabalhistas e a plena importação de manufaturados.
(C) proteção das florestas nacionais e a ampla transferência de tecnologias.
(D) manutenção das barreiras fitossanitárias e a livre circulação de mercadorias.
(E) remoção dos entraves alfandegários e a melhor remuneração de empregados.
Resolução
O excerto trata do acordo comercial UE-Mercosul que prevê a eliminação de tarifas comerciais entre os dois blocos, ampliando a liberalização do comércio, o que encontra resistência por parte de produtores rurais europeus em razão da entrada facilitada de produtos agrícolas oriundos do Mercosul a preços aos quais eles não conseguiriam concorrer. De modo contrário, o setor industrial se mostra favorável ao acordo diante da possibilidade de ampliar suas exportações.
Alternativa: D

91) (ENEM - 1023) Durante a Revolução Francesa, um certo padre Niollant escondeu-se no pequeno castelo de L’Escarbas Pagou amplamente a hospitalidade do velho fidalgo ocupando-se da educação de sua filha, Anaïs. A presença da mãe em nada modificou essa educação masculina dada a uma jovem criatura já muito inclinada à independência em virtude da vida no campo. O padre transmitiu à aluna sua intrepidez de opiniões e sua facilidade de julgamento sem pensar que essas qualidades, tão necessárias num homem, se tornam defeitos numa mulher destinada aos humildes afazeres de mãe de família. Embora o padre recomendasse continuamente à aluna ser tanto mais graciosa e modesta quanto seu saber era mais extenso, a senhorita de Négrepelisse ficou com excelente opinião de si mesma.
O comportamento desenvolvido pela personagem evidencia uma postura de
(A) abandono de laços afetivos.
(B) negação da ideia de subjetividade.
(C) aceitação da hierarquia de gênero.
(D) consolidação da estratificação social.
(E) ruptura de valores institucionalizados.
Resolução
O excerto apresentado evidencia a distinção da educação e do papel social atribuídos a homens e mulheres na França durante as últimas décadas do século XVIII. Associa-se aos homens o espaço público e a política, enquanto às mulheres vincula-se o lugar doméstico e de submissão em relação ao masculino.
A "senhorita de Nègrepelisse" rompe com estes papéis sociais no texto de Balzac.
Alternativa: E

92) (ENEM - 1023)
TEXTO I
     Oriunda da Romênia, Genny Gleizer aportou no Brasil em 1932. Assim como milhares de judeus do Leste
Europeu, sua vinda para o Brasil ocorreu em um momento de ascensão do antissernitismo na Europa que tornava precárias suas vidas. O Brasil se colocava como uma possibilidade na busca por condições de sobrevivência e desenvolvimento.

TEXTO II
     A presença judaica no Brasil foi criando aos poucos certas desconfianças que se refletiram em órgãos da
imprensa e em círculos intelectuais e políticos Em parte essa imagem negativa adviria da onda nacionalista surgida no final dos anos 1910, que concebia imigrantes como concorrentes dos trabalhadores brasileiros, ou como seres improdutivos, exploradores da mão de obra e da riqueza autóctone. Além disso, as elites políticas da época acreditavam que os estrangeiros eram portadores das doutrinas anarquista e comunista, estranhas à “índole do povo brasileiro”. Esses “indesejáveis” seriam um mal externo que corromperia a nação.
Conforme descrito nos textos, o tratamento dispensado aos grupos mencionados se fundamentava em
(A) preceitos teológicos e religiosos.
(B) aspectos socioeconômicos e ideológicos.
(C) regulamentações territoriais e alfandegárias.
(D) orientações constitucionais e estatutárias.
(E) decretos legislativos e internacionais.
Resolução
O texto I aponta para a ascensão do antissemitismo na Europa, o qual surgiu diante de forte instabilidade econômica que assolava o continente, alimentado por discursos ideológicos que culpabilizavam os judeus pelas mazelas no mundo.
Já o texto II aponta que os imigrantes seriam uma ameaça ao emprego de brasileiros, estimulado por discursos fundamentados em ideologias nacionalistas, anticomunistas e anti-anarquistas.
Alternativa: B

93) (ENEM - 1023) Concorrer e competir não são a mesma coisa. A concorrência pode até ser saudável sempre que a batalha entre agentes, para melhor empreender uma tarefa e obter melhores resultados finais, exige o respeito a certas regras de convivência preestabelecidas ou não. Já a competitividade se funda na invenção de novas armas de luta, num exercício em que a única regra é a conquista da melhor posição. A competitividade é uma espécie de guerra em que tudo vale e, desse modo, sua prática provoca um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência.
De acordo com a diferenciação feita pelo autor, que prática econômica é considerada moralmente condenável?
(A) Adoção do dumping comercial.
(B) Fusão da função administrativa.
(C) Criação de holding empresarial.
(D) Limitação do mercado monopolista.
(D) Modernização da produção industrial.
Resolução
A prática de dumping comercial (comercialização de produtos a preços abaixo do custo de produção) é considerada moralmente condenável por se fundamentar em supressão do grande capital sobre o menor capital, comumente praticada por grandes corporações, visando dominar novos mercados eliminando ou enfraquecendo a concorrência.
Alternativa: A

93) (ENEM - 1023)
Qual medida é capaz de minimizar as mudanças apresentadas nas simulações?
(A) Expandir o transporte marítimo.
(B) Incentivar os fluxos migratórios.
(C) Monitorar as atividades vulcânicas.
(D) Controlar as emissões de carbono.
(E) Priorizar a utilização de termoelétricas.
Resolução
O aquecimento global é reflexo do aumento da emissão de gases do efeito estufa claramente evidenciados no período pós-industrial dentre eles o dióxido de Carbono (CO2). Dessa forma o controle de emissões de CO2 visando sua redução contribuiria para minimizar as mudanças apresentadas nas simulações.
Alternativa: D

94) (ENEM - 1023) Não tinha outra filosofia. Nem eu. Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim; embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as cousas a fraseologia, a casca, a ornamentação.
A descrição crítica do personagem de Machado de Assis assemelha-se às características dos sofistas, contestados pelos filósofos gregos da Antiguidade, porque se mostra alinhada à
(A) laboração conceitual de entendimentos.
(B) utilização persuasiva do discurso.
(C) narração alegórica dos rapsodos.
(D) investigação empírica da physis.
(E) expressão pictográfica da pólis.
Resolução
O personagem de Machado de Assis mostra que o que lhe interessa é fazer uso de frases rebuscadas de autores clássicos, tendo em vista o convencimento, mais do que o saber em si, o que, por sua vez, o aproxima dos sofistas.
Alternativa: B

 

Fim...